15/12/2004 - 10:00
Há dez anos morria Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom. No mesmo dia 8 de dezembro e na mesma cidade, Nova York, onde John Lennon fora morto a tiros 14 anos antes. À semelhança do ex-Beatle, Tom tinha uma música entre as mais gravadas de todos os tempos – Garota de Ipanema, só batida por Yesterday, do quarteto de Liverpool. Ao comentar o fato, ele usava o humor matreiro. “Isso não vale. Além de eles serem quatro, já compõem em inglês!” Reza a lenda que a delícia de sua conversa só rivalizava com sua música, o que pode ser comprovado em Antonio Carlos Jobim em Minas ao vivo – piano e voz, primeiro disco do selo que une a gravadora Biscoito Fino à Jobim Music, de Ana e Paulo, viúva e filho do artista.
Quando subiu ao palco do Palácio das Artes em Belo Horizonte, em março de 1981, ainda abalado com a morte do parceiro e amigo Vinicius de Moraes, no ano anterior, Jobim estava inspirado. Só, diante de uma multidão emocionada, e contando apenas com o piano, cantou e lembrou histórias de parceiros como Vinicius, Chico Buarque, Dolores Duran e Aloysio de Oliveira. Abre a noite com Newton Mendonça, ao lado de quem fez “umas músicas que ninguém quis gravar, nem os editores, nem João Gilberto”. Na interpretação de Desafinado, surpreende com a lendária introdução, praticamente desconhecida, música seguida por Samba de uma nota só. De Dolores Duran toca Por causa de você e uma versão instrumental de Estrada do sol. Na sequência, se espalha em Eu sei que vou te amar, Dindi, Modinha, Corcovado, Lígia, Retrato em branco e preto e até mesmo em Garota de Ipanema.
O músico dedicado, que mesclava raiz, erudição e criatividade, é esmiuçado no livro Três canções de Tom Jobim (Cosacnaify, 96 págs., R$ 36). Enquanto Lorenzo Mammì se dedica a Sabiá, com letra de Chico Buarque, que julga influenciada por Gonçalves Dias, Arthur Nestrovsky garimpa Olavo Bilac em Águas de março e Luiz Tatit
analisa os ecos de Dorival Caymmi em Gabriela. O volume vem acompanhado por um CD em que Ná Ozzetti canta os três temas acompanhada ao piano por André Mehmari. Os lançamentos não devem parar por aí. A fita com o precioso show de Minas, por exemplo, foi encontrada intacta, necessitando de ajustes mínimos, na estante do compositor. No final dela, ao anunciar músicas que compôs sozinho, brinca: “Agora um rapaz aqui um tanto dispersivo. Meu parceiro também, um tal de Tom Jobim.” Fino humor de Tom. Outro exemplo foi testemunhado pelo repórter que assina estas linhas. Instado por um editor, perguntou-lhe quanto iria “levar” para se apresentar em Campos de Jordão, no lançamento da Universidade Livre de Música. De bate-pronto Tom Jobim tascou: “Vou levar muitos cobertores, meu filho, porque lá é frio para o diabo!”