15/12/2004 - 10:00
Na festa de 60 anos da Editora Brasiliense, realizada no ano passado na Casa de Portugal, em São Paulo, mais de 600 pessoas – entre elas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dona Ruth Cardoso e a secretária de Estado da Cultura, Cláudia Costin – se acotovelaram entre figuras históricas da militância de esquerda. A própria diretora-presidenta Yolanda Cerquinho da Silva Prado, a Danda, viveu exilada em Paris durante toda uma década. Desde a sua fundação, em novembro de 1943, tendo como sócios o historiador Caio Prado Jr., pai de Danda, o avô desta, Caio Prado, além de Leandro Dupré, Hermes Lima e Arthur Neves, a Editora Brasiliense primou pela combatividade e pelas idéias originais. Em seu primeiro endereço, na rua D. José de Barros, servia como uma espécie de “fachada” para a redação do jornal Hoje, do proscrito Partido Comunista. A entrada do escritor Monteiro Lobato três anos depois, trazendo consigo os livros do Sítio do Picapau Amarelo, que foram transformados em coleção, acelerou esse processo.
É de Lobato a idéia da venda de livros de porta em porta. Nas décadas seguintes, coleções preciosas como Marcha do tempo e Jovens do mundo todo, criadas nos anos 1960 por Danda, em uma rápida passagem pela editora, levaram ao público médio nomes como Mark Twain e Rudyard Kipling. Na época, Caio Prado Jr. exercia sua militância na Revista Brasiliense, fechada pelo regime militar em 1964. Seu filho, Caio Graco, liderou a editora em seu período de maior popularidade, nos anos 1980, publicando o jornal Leia Livros e ditando modas literárias, como o boom da literatura beat, em que Charles Bukowski pegou carona. Com a morte do irmão, Danda, psicóloga de formação, assumiu a empresa e, ao lado da sócia e vice-presidenta, Maria Teresa Batista de Lima, cuidou de manter a tradição de combatividade enquanto imprimia sua marca pessoal.
Paralelamente, a editora – agora sediada no Tatuapé – conservou as coleções infantil e adulta de Lobato, cheias de histórias publicadas em avulso dentro da série Rocambole, e deu continuidade às criações de Caio Graco, responsável por coleções como a fundamental Primeiros Passos e Encanto Radical, formada por biografias de pessoas já mortas, escritas por admiradores. Os títulos já lançados de Primeiros Passos foram atualizados e vêm aí volumes sobre mangá, dramaturgia, educação popular e literatura de cordel. Da outra série encontram-se no prelo as biografias Mao Tsé Tung, por Márcio Naves, Jack Kerouac, por Antonio Bivar, e Buda, por Heródoto Barbeiro. Caio Prado Jr. mereceu uma biografia em separado, escrita por Paulo Lumatti. Entre outros novos títulos, destacam-se Bioética – ensaios, de Débora Diniz, assunto que tem recebido atenção especial da editora; Redescobrindo sua beleza, de Jacqueline Dupuy-Couturier, sobre cirurgia plástica; e Abrigo no Brasil, de Gudrun Fischer, sobre uma comunidade de judias alemãs refugiadas do nazismo. Além da reedição das obras completas de Cassandra Rios, autora perseguida por seus temas ousados, em especial o lesbianismo, organizada por Rick Santos.