Após quase sete meses de relativa estabilidade, sem atentados de grandes proporções a empresas ou instalações diplomáticas estrangeiras, a Arábia Saudita voltou a ser o palco principal da organização comandada pelo saudita Osama Bin Laden, a al-Qaeda. E o alvo dos extremistas islâmicos foi, mais uma vez, os Estados Unidos. Na segunda-feira 6, o consulado americano na cidade saudita de Jidá (segunda maior cidade do país e importante centro financeiro) foi atacado por militantes ligados à al-Qaeda, que conseguiram furar a fortíssima segurança das instalações diplomáticas americanas no país. Os terroristas usaram oito homens como escudos humanos por mais de uma hora. Em confronto com as forças de segurança sauditas, nove pessoas morreram (quatro extremistas e cinco funcionários do consulado, nenhum deles americano). Os cinco extremistas tentaram invadir o consulado com um carro logo depois da entrada de um veículo do corpo consular. Impedidos pelas barreiras, eles invadiram o prédio principal com armas automáticas e granadas. Após a chegada das forças de segurança, seguiu-se um tiroteio. Foi o segundo grande atentado em território saudita este ano. Em maio passado, um grupo armado invadiu um complexo residencial habitado por estrangeiros, na cidade petrolífera de Khoba, matando 30 pessoas. A sequência de ataques às instalações americanas levanta dúvidas sobre a eficácia da política saudita antiterrorismo.

A Arábia Saudita é o mais estratégico dos aliados americanos no Oriente Médio (excetuando-se Israel). Os sauditas são os maiores produtores mundiais de petróleo e donos de 25% das reservas mundiais conhecidas. A estabilidade política no reino, mantida com mão de ferro ditatorial, interessa muito à comunidade internacional. Por isso, os americanos sempre fizeram vistas grossas ao ambivalente trato dos sauditas aos grupos extremistas. Entretanto, os atentados perpetrados pela al-Qaeda a partir de 2003 começaram a focar a expulsão e a intimidação de todos os estrangeiros (um dos sonhos que Bin Laden sempre acalentou foi o de ver a terra santa do islamismo livre de estrangeiros), inclusive aqueles fundamentais para o funcionamento da indústria petroleira, simbolizada na terrível decapitação do engenheiro Paul Johnson em junho deste ano. Além disso, civis sauditas também viraram alvo dos atentados. Essa ameaça de desestabilização política do regime saudita levou o príncipe Abdulá a tomar atitudes mais drásticas. Logo depois de anunciar uma anistia aos membros da al-Qaeda que se arrependessem, deu-se o início à repressão aos grupos extremistas, levando à morte ou prisão de 17 dos 26 terroristas sauditas mais procurados do país. “Desde que a al-Qaeda começou a atacar os cidadãos sauditas, o governo intensificou as operações anti-al-Qaeda. Mas a organização resiste. Há uma rede de seguidores dispostos a eliminar os ocidentais no Oriente Médio”, afirmou a ISTOÉ, Marvin Kalb, professor da Universidade Harvard.

“Os terroristas ainda estão em ação. Eles querem que nós deixemos a Arábia Saudita e o Iraque. Eles querem nos intimidar e nos cansar”, disse o presidente americano, George W. Bush, que fez uma correlação entre o atentado ao consulado de Jidá e os ataques dos insurgentes no Iraque. Bush afirmou, em recepção na Casa Branca ao presidente interino iraquiano, Ghazi al-Yawar, que os terroristas querem influenciar nas eleições iraquianas, previstas para 30 de janeiro de 2005.
De fato, esse último ataque mostra que as redes terroristas, interligadas ou autônomas (dúvida que divide os especialistas), ainda têm poder de fogo. O consulado americano, que ocupava um quarteirão, era uma fortaleza protegida por um enorme muro e mais de 200 guardas. Mas nem isso garantiu sua segurança. A ameaça do terrorismo continua mais real do que nunca.