Continuava desaparecido até a noite da quinta-feira 9 o presidente da bateria da Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira (aquela que a velha guarda dos tempos de Cartola imortalizou como o teu cenário é uma beleza). O seu nome: Robson Roque. A Polícia Militar do Rio de Janeiro disse ter recebido uma denúncia anônima – triste denúncia que dava conta de que Roque teria sido assassinado por traficantes de drogas. A essa denúncia somou-se um falatório. E notícia ruim corre mais rápido que fogo em favela: Roque estaria morto porque não cedera aos traficantes que queriam colocar determinada moça como a rainha da bateria. Na sexta-feira 10, a polícia encontrou no alto do morro do telégrafo parte de um corpo incinerado que pode ser do sambista. Se essas tristes notícias se confirmarem, infelizmente tem-se de dizer que aconteceu o óbvio. Desde que a malandragem é malandragem nos morros cariocas, o que bandido pede para mulher de bandido não é pedido, é ordem. E desde que o Carnaval é Carnaval, Momo teve um pé de seu samba no ritmo da marginalidade. Nos tempos dos Castores, era o jogo do bicho que mandava no Carnaval. O bicho está em baixa, o tráfico em alta, então agora são os traficantes que mandam. Surpresa nenhuma, e isso é que é a eterna quarta-feira de cinzas no Brasil: bandido manda, e há muito tempo. Surpresa nenhuma, porque o Império Serrano já teve o seu mestre de bateria assassinado pelo tráfico há dois anos. Fica o registro da antena profética de Chico Buarque quando há muito tempo ele cantou (e nenhuma autoridade ouviu) a Mangueira como a “derradeira estação”: “São Sebastião crivado/nublai minha visão/na noite da grande fogueira desvairada”. Espera-se, é claro, que essa notícia não se confirme e que o bamba Robson Roque esteja vivo. Mas verde-e-rosa, o cenário não é uma beleza.