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APRESENTAÇÃO
Veteranos líderes do DEM e do
PSDB apresentam Índio a Serra

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A novela em torno do vice na chapa de José Serra ao Palácio do Planalto fez com que caciques de PSDB e DEM protagonizassem cenas de trapalhadas raramente vistas na política brasileira. A trama envolveu pressões pouco ortodoxas exercidas por dois irmãos senadores e mostrou de forma cristalina como dois minutos na tevê foram mais importantes do que plataformas políticas na composição da chapa.

A escolha do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) gerou uma crise na parceria de caciques do PSDB com o DEM. Diante da reação, os tucanos não tiveram outra escolha senão aprovar a substituição de Dias pelo até então pouco conhecido deputado Índio da Costa (DEM-RJ). O desastrado episódio, porém, deixou sequelas e expôs a maneira improvisada com que a campanha vem sendo tocada. A solução encontrada, segundo líderes do PSDB ouvidos por ISTOÉ, não tem eficácia eleitoral e demonstrou que a grande força do DEM não está em seus quadros políticos, mas no tempo a que a legenda tem direito no horário eleitoral gratuito. “Foi um desgaste desnecessário. O PSDB entrou numa briga de irmãos e colocou em risco um projeto nacional”, disse o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).

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RADICALIZAÇÃO
Bornhausen (à esq.), junto a um assessor,
ameaça tirar de Serra dois minutos de tevê

Os democratas nunca admitiram abrir mão da vice (a não ser que o escolhido fosse Aécio Neves), sob o temor de o partido sumir do mapa. Em conversa com parlamentares da legenda, o deputado Rodrigo Maia (RJ) cogitou até deixar a presidência do partido, caso o DEM fosse excluído da chapa. “Não aceitarei essa desmoralização”, esbravejou, na segunda-feira 28. Já que os caciques tucanos e os líderes do DEM não conseguiam um acordo, foi necessária a entrada em campo, no início da semana, dos veteranos Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, Jorge Bornhausen (SC), Marco Maciel (PE), Heráclito Fortes (PI) e do próprio Serra para debelar o incêndio. Mesmo assim, o entendimento só aconteceu depois da determinante decisão, na noite da terça-feira 29, de Osmar Dias (irmão de Álvaro Dias) de se lançar candidato ao governo do Paraná, abrindo um palanque para Dilma. “Nós estávamos preparando o nosso velório, combinando os detalhes do enterro, quando veio a bomba. Osmar Dias candidato”, disse Heráclito, anfitrião de um jantar naquela noite, cujo cardápio não poderia ser mais apropriado: traíra, um peixe de água doce.

Na madrugada de terça-feira para quarta-feira, Rodrigo Maia e Serra ficaram reunidos em São Paulo até as 5h. Aécio foi tirado da cama à 1h da manhã da terça-feira e embarcou num jatinho para São Paulo para ajudar na fase final das negociações. O martelo foi batido no final da manhã da quarta-feira 30. “Precisamos da juventude na campanha, da juventude, entendeu?”, disse Serra, no primeiro telefonema para Índio da Costa, parlamentar de 39 anos umbilicalmente ligado ao ex-prefeito do Rio, Cesar Maia. Ele foi o grande fiador da indicação de Índio, conhecido no Rio de Janeiro como integrante da turma de “Cesarboys”, grupo de jovens que comandavam subprefeituras, da qual também fez parte o atual prefeito, Eduardo Paes.

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CESARBOY
Índio da Costa foi “prefeito” de Copacabana na
gestão de Cesar Maia e agora quer ser vice-presidente

Encerrada a novela do vice, na sexta-feira 2, Serra recebeu uma boa notícia depois de semanas de inferno astral. Ao contrário de Vox Populi e Ibope, que constataram a candidata Dilma cinco pontos na frente do tucano, pesquisa do instituto DataFolha relata empate técnico entre os dois candidatos, apontando Serra com 39% e Dilma com 38%. Os petistas olharam os números com desconfiança. Acreditam que com o notíciário negativo dos últimos dias não haveria razão para alteração no quadro eleitoral. Os tucanos comemoraram com timidez. A escolha do vice ainda não foi bem digerida. “Foi oportunismo do DEM forçar a vice. Quis lavar a cara no prestígio de Serra. Nós fizemos ao PSDB as advertências cabíveis”, disse o presidente do PTB, Roberto Jefferson. O petebista tem dito que circulam informações no meio jurídico de que o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda produziu quatro dossiês com fartas informações sobre antigos aliados. Um dos alvos seria Rodrigo Maia. Depois de tantas trapalhadas, Índio da Costa terá que mostrar a seus caciques e aos eleitores que pode fazer a diferença. Na quinta-feira 1º, deu sinais de que algo poderá ensinar aos mais velhos. Foi o único da turma de Serra a se recordar dos 16 anos do Plano Real, uma das principais bandeiras eleitorais do PSDB.

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