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Mais do que assistir aos jogos da Copa do Mundo e torcer para o Brasil, o catarinense Amadeu Russi, 51 anos, veio para a África do Sul com o objetivo de ficar famoso. Natural de Itapema, uma cidade litorânea a 50 quilômetros de Florianópolis, Russi gastou R$ 90 mil entre passagens, hotéis e ingressos para assistir a todos os jogos da Seleção na companhia da filha e da mulher. No entanto, seu bem mais valioso nesse Mundial é um chapéu verde e amarelo com a imagem de um Cristo Redentor de quase 50 centímetros pregado em seu topo. O artefato, desenhado por ele e confeccionado pelos operários de sua construtora, é sua arma para chamar a atenção dos jornalistas que cobrem a Copa do Mundo e, então, ter seus 15 minutos de celebridade. “Fiz isso para a mídia se interessar por mim”, conta ele, sem nenhuma cerimônia. O projeto de ganhar fama instantânea com a espalhafatosa fantasia tem dado certo. A cada jogo do Brasil lá está Russi saracoteando na porta dos estádios, pronto para uma nova entrevista ou uma nova foto. Russi, no entanto, tem enfrentado uma forte concorrência. Concluída a fase de oitavas-de-final, um público de quase 2,7 milhões de pessoas já havia presenciado, nos estádios, os jogos da Copa do Mundo. Mais que isso, em uma época em que o culto às celebridades torna o anonimato mais uma fonte de angústia para uma parcela considerável da população, a profusão de câmeras voltadas para as arquibancadas tem servido para milhares de pessoas tentar conquistar, ainda que de forma fugaz, o doce sabor do reconhecimento. Em cada jogo, uma pequena multidão extrapola na criatividade para seduzir os jornalistas. Há de tudo, desde as tradicionais caras pintadas até elaboradas fantasias, transformando a plateia deste mundial na mais colorida de todos os tempos. Não fosse o frio que tem marcado os jogos do torneio, não seria difícil confundir a entrada dos estádios com bailes de Carnaval.

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Esse informal concurso de originalidade – que se espalhou pelo mundo todo nas áreas em que multidões se aglomeraram para assistir às partidas de suas seleções em telões – tem compensado nas arquibancadas a falta de criatividade e ousadia que tem se visto nos campos da África do Sul. Enquanto a ordem entre as seleções é montar esquemas táticos de uma disciplina quase militar, os torcedores alegram o espetáculo muitas vezes sonolento. Foi assim na cansativa disputa por uma vaga nas quartas-de-final entre Paraguai e Japão. Dentro das quatro linhas os 22 jogadores não conseguiram marcar um só gol em 120 minutos, tornando a disputa de pênaltis, que classificou o Paraguai, de longe o momento de maior beleza e emoção durante toda a partida. Nas arquibancadas, no entanto, torcedores deram um show à parte. Havia ingleses vestidos de cavaleiros da távola redonda, loiras europeias trajando quimonos orientais, africanos com trajes típicos e até torcedores de seleções que nem sequer foram à Copa. Fosse aquela partida um concurso de fantasias, o polonês Andrej Bobowski, de 75 anos, certamente figuraria entre os finalistas. Vestido como o finado papa João Paulo II, Bobowski distribuía bênçãos aos mais de 30 mil torcedores que foram ao Estádio Loftus Versfeld, em Pretória, na tarde da terça-feira 29. Natural de Varsóvia, o polonês se diz o “rei dos amantes de futebol da Polônia” e jura ter ido a todas as Copas do Mundo desde 1978, na Argentina. “Já assisti a mais de 120 jogos, sempre fantasiado”, conta Bobowski, garantindo ser o torcedor mais famoso da Polônia. Sua seleção não foi à Copa, o que prova que torcer nem sempre é o que mais importa. Na plateia, fotógrafos conseguiram identificar uma mesma jovem exibindo as cores de nações diferentes em diferentes jogos – ora era portuguesa, ora alemã. Personagens como ela, o papa do futebol ou o catarinense que carrega o Corcovado na cabeça prometem ganhar ainda mais espaço nas arquibancadas nesta última semana de Copa do Mundo. Com o fim do Mundial se aproximando, todos querem aproveitar os últimos momentos de fama instantânea.

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