Às vésperas da reforma ministerial prevista pelo presidente Lula para  esta virada de ano, o PMDB, maior partido do Congresso, não sabe  se irá ganhar ou perder vagas no primeiro escalão e, muito menos, se conseguirá melhorar seu status no relacionamento com o governo. Pode ocorrer até o contrário disso tudo: o PMDB ficar sem nenhum ministério e ver os parlamentares de sua bancada serem cooptados pelo Palácio do Planalto. Tudo por culpa da divisão interna.

O racha ficou evidente na reunião da Executiva Nacional, ocorrida na quarta-feira 8, em que se discutiu se haveria ou não a convenção marcada para o domingo 12. A convenção foi convocada para decidir se o PMDB entrega os cargos ou se permanece apoiando o governo Lula. O resultado: oito a oito. O presidente do PMDB, Michel Temer, votou duas vezes. Na primeira, empatou o jogo e, na segunda, decidiu por nove a oito que o partido deveria se afastar do Planalto. “Foi gol de mão”, protestou o líder no Senado, Renan Calheiros (AL). Cenas bizarras e bate-bocas ocorreram na votação da proposta de Santa Catarina, pela qual os ministros do partido deveriam entregar seus cargos em 48 horas. “Na minha casa, os serviçais têm aviso prévio de 30 dias. Vocês querem constranger meu marido e tirar ministros de Estado em dois dias,” protestou Mônica Oliveira, membro da Executiva e mulher do ministro Eunício Oliveira. A impensável demissão relâmpago dos ministros seria a condição para evitar a convenção de domingo.

Resultado: os maiores derrotados foram os líderes na Câmara e no Senado,  José Borba e Renan Calheiros, o presidente do Senado, José Sarney, e os  ministros Eunício Oliveira e Amir Lando, antes tidos como únicos interlocutores credenciados do partido junto ao governo. Eles acabaram desautorizados para negociar em nome da legenda. Continuarão apoiando Lula, com os ministros, possivelmente, mantidos nos seus cargos, mas enfraquecidos. Quem ganhou foi a ala rebelde, que conseguiu manter a convenção. Lideranças estaduais,  como os ex-governadores Anthony Garotinho e Orestes Quércia, que trabalharam abertamente pela realização da convenção, mostraram força no partido. Embalado pela última pesquisa eleitoral que o coloca em terceiro lugar na preferência para a sucessão de Lula, com bons índices de voto em todos os cenários, Garotinho agora volta a trabalhar sua candidatura para 2006.