Satisfeito com os resultados obtidos no tratamento contra a doença transtorno obsessivo compulsivo (TOC), diagnosticada este ano, Roberto Carlos, no entanto, não gravou um CD novo para o Natal. Em compensação, está lançando um DVD caprichado, o Pra sempre ao vivo no Pacaembu, e uma caixa com oito CDs de discos da década de 60, devidamente remasterizados e lançados em formato de mini-LP, com letras, fichas técnicas e capas e contracapas originais. Essa caixa – contendo Roberto Carlos (1963), É proibido fumar (1964), Roberto Carlos canta para a juventude (1965), Jovem guarda (1965), Roberto Carlos (1966), Roberto Carlos em ritmo de aventura (1967), O inimitável (1968) e Roberto Carlos (1969) – é a primeira de uma série de quatro que vai revisitar toda a obra do Rei sob o título Pra sempre. O quinto pacote será exclusivo para discos internacionais, inéditos no Brasil. E não deixa de ser também um presente para os fãs o fato de o cantor estar superando a fase introspectiva na qual mergulhou desde a morte de sua mulher, Maria Rita, em dezembro de 1999, vítima de câncer. De azul, como sempre, ele deu uma animada entrevista coletiva recentemente no Rio de Janeiro, na qual esbanjou bom astral. “Ainda não estou curado, gente. Vou continuar a entrar e sair pela mesma porta. Mas já penso em usar outras cores.”

Um dos benefícios da terapia a que se submete é conseguir voltar a cantar músicas que tinham caído em desgraça em seu próprio gosto, como Quero que tudo vá pro inferno – que estava tocando justamente no momento em que ele adentrou a sala. Ao ser perguntado se iria interpretá-la novamente, ele suspirou no melhor estilo Roberto Carlos: “Foi fundo, hein, cara!…” E respondeu: “Teve uma época da minha vida em que eu não queria cantar certo tipo de música nem falar algumas palavras. Eu pensava que era superstição. Hoje, graças à ciência, descobri que não sou tão supersticioso, eu tenho TOC. Agora estou fazendo tratamento e pode ser que volte a cantar essa música.” Após ressaltar que a doença “é uma tristeza”, ele fez troça consigo mesmo: “Melhorei razoavelmente. Já não ando tão rasgado quanto antes.”

E o azul, é superstição ou obsessão? O Rei percebe a provocação, mas não perde a majestade: “Tudo bem, vou mudar bastante. Mas, olha, vai ser muiiiito difícil eu usar marrom.” Depois da risada geral, a explicação: “É que eu não gosto mesmo. Já o azul eu gosto desde menino. Se bem que eu acho que tenho TOC desde menino.” Mais gargalhadas e uma ressalva: “Não é para rir, gente, é para chorar.” Ao falar sobre algumas canções, ele detalhou o processo de criação de Detalhes: “Escrevi dois versos numa noite e comecei a achar que eram muito bons. Quando fui ouvir no dia seguinte, falei: ‘Caramba, é muito ruim!’ Trabalhei o terceiro e quarto versos e mudei de idéia: ‘Hum, isso tá legal.’ Chamei o Erasmo (Carlos) e ele me ajudou. Fiquei meses implicando com a palavra ‘ronco’, mas não encontrava outra melhor e acabei percebendo que as pessoas que ouviam a música nem reparavam, era coisa minha.” Ainda bem. Alguém hoje pode imaginar o megassucesso Detalhes sem “o ronco barulhento do meu carro”?