22/12/2004 - 10:00
Muita gente passa meses tendo como paisagem as paredes de um hospital. Ficar fora de casa por uma razão indesejável durante longo tempo já é ruim, ainda mais se a causa for doença. Mas alguns hospitais já adotam sistemas para tornar mais agradável – ou o menos desagradável possível – a estadia de seus pacientes, partindo do princípio evidente de que o bem-estar emocional é fundamental para qualquer recuperação. Um deles é o Hospital Albert Einstein, de São Paulo. A instituição criou o Hospitalidade. O serviço não deixa passar em branco nenhum aniversário dos 3,2 mil internos recebidos por mês, além de organizar batizados e atender a desejos que tornem a reclusão menos penosa.
Um dos momentos mais emocionantes proporcionados pelo Hospitalidade foi a apresentação recente de um coral escolar com 40 crianças. Entre elas estavam Beatriz, nove anos, e Eduardo, sete, que foram alegrar o pai, Pablo Magnoni, 47 anos, diretor administrativo da Secretaria Municipal de Saúde. Ele foi internado em maio, vítima de um grave acidente automobilístico. Está se recuperando, mas ainda não consegue andar. Numa situação como essa, o tédio é inevitável. A família pensou, então, em organizar o coral para animá-lo. O hospital atendeu à sugestão. “Quase morri de emoção”, brinca Pablo.
Com pouco mais de dois anos, o serviço é comandado por Carmen Gomes. Ela lembra o caso de um menino de seis anos que passou quatro meses hospitalizado para que fosse submetido a um transplante de medula. “O pai dele trouxe dois computadores e uma televisão plasma de 50 polegadas”, diz Carmen. O pedido mais esdrúxulo foi o de uma paciente de 90 anos, deprimida após um mês sem ver seu cão da raça São Bernardo. O Hospitalidade conseguiu levar o cachorro para uma área comum. “Isso a tranquilizou e acelerou a recuperação”, observa.
No Rio de Janeiro, a Clínica São Vicente mantém o Acolhimento, serviço que transformou os dois meses de internação do músico Flávio Venturini, 55 anos, em uma produtiva fase da vida. “Tive a idéia de trazer para o quarto meus equipamentos. Era como se estivesse em um estúdio”, afirma. Em agosto, o músico tinha sido operado de uma hérnia na virilha numa outra instituição. O problema é que ele pegou uma infecção hospitalar. Uma consequência foi a formação de um coágulo sanguíneo que se alojou junto ao coração. Teve de passar por uma delicada cirurgia na São Vicente. A atenção que recebeu lhe deu segurança. “Fui para a segunda operação com muito mais confiança”, conta. O saldo foi tão positivo que Venturini compôs, no hospital, a canção Flores de abril, que entrará no próximo CD, organizado na clínica. O músico recebeu alta em novembro, celebrada com um animado happy hour.
Cuidados assim são capazes de operar milagres, mas exigem cautela, como o respeito às orientações médicas e aos vizinhos de quarto, além das precauções contra infecções. “Ninguém vem para cá feliz. Procuro minimizar a estadia ouvindo as vontades da família e do paciente”, explica Maria de Lourdes Ruiz, coordenadora do Acolhimento. “Este ano, uma jovem que precisava controlar a diabete levou para o quarto um karaokê. Ela e as amigas se divertiam cantando e as três semanas de internação foram mais suaves”, conta.