22/12/2004 - 10:00
Em virtude da fragilidade da saúde do papa João Paulo II, há tempos a hierarquia da Santa Sé se prepara para a sucessão do pontífice. Aos 84 anos, ele sofre do mal de Parkinson, entre outras moléstias, e já não viaja tanto pelo mundo (sua última viagem foi em junho, para a Suíça). Entres os possíveis sucessores, destaca-se um brasileiro, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes.
Dom Cláudio passou a ser citado depois que foi convidado pelo papa, há dois anos, para ser o pregador de um retiro realizado por cardeais no Vaticano. Ser escolhido para essa pregação é considerado uma deferência, uma homenagem pelas suas ações e posições no interior da Igreja. Dom Cláudio acumulou, então, muito prestígio na Santa Sé.
Conhecido nacionalmente por apoiar as greves operárias do ABC lideradas pelo então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, no final dos anos 70, com o tempo dom Cláudio transformou-se num religioso moderado. E, para chegar ao comando da Arquidiocese de São Paulo, teve o apoio do conservador cardeal dom Eugênio Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, que sempre foi ligado à Cúria Romana. O antigo progressista passou, então, a ser visto como um homem de confiança de dom Eugênio e, consequentemente, do Vaticano.
Dois fatores, no entanto, podem pesar contra a sua indicação: primeiro, seu passado militante ainda hoje pesa na opinião de setores conservadores do Vaticano; segundo, ele não é um conhecedor profundo da África e da Ásia, regiões para as quais a Igreja Católica volta a sua atenção no momento. A Santa Sé pode preferir alguém que esteja familiarizado com os problemas daquelas regiões, além de ter capacidade de dialogar com o mundo árabe e judeu. Além disso, ressalta um teólogo paulista, dom Cláudio ainda é visto como uma pessoa acanhada.
O próximo papa possivelmente terá o perfil de João Paulo II: teologicamente conservador, mas politicamente progressista. O professor titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP, Mário Sérgio Cortella, lembra que no Terceiro Mundo a Igreja sempre teve uma ação muito mais voltada para a ação, enquanto a Europa se fixava nas questões da fé. Hoje, houve uma inversão de valores e, por isso, já não haveria mais a necessidade de o próximo pontífice ser europeu. “Será alguém que dará uma força maior às verdades da fé. E pode haver um experimento. Pode ser alguém da África; alguém que tenha qualidades teológicas e pastorais, mas que agregue um diferencial de flexibilidade política”, diz Cortella.
Entre os vários nomes tidos como papabili, fala-se em Christoph Schönborn, arcebispo de Viena; Dionigi Tettamanzi, arcebispo de Milão e ligado à Opus Dei; Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação dos Bispos da Santa Sé; Ângelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano; e Francis Arinze, da Nigéria.