20/06/2007 - 10:00
1- BARACK OBAMA Cotado para a Presidência dos EUA
2- ORLANDO SILVA Ministro dos Esportes
3- JOAQUIM BARBOSA Primeiro juiz negro do STF
4- EMMANUELA DE PAULA Top model brasileira
5- LEWIS HAMILTON Candidato ao título da F-1
Bastaram seis corridas para o inglês Lewis Hamilton provar que não figurará na história do automobilismo apenas como o primeiro negro a pilotar um carro de Fórmula 1. O fato de subir em todos os pódios desde o início da temporada, a sua primeira na categoria, mostra que a McLaren fez um bom negócio ao apostar nele. Com a vitória de Hamilton no Grande Prêmio do Canadá, no domingo passado, os aficionados por automobilismo enxergam agora boas chances de ele ser campeão em 2007. Por sinal, o piloto já tem uma marca garantida em seu currículo.
Aos 22 anos, é o mais jovem da F-1 a liderar um campeonato. "Sempre repito que estou vivendo um sonho, mas é verdade", disse ele.
Na Inglaterra, é apontado como o novo modelo da juventude.
Filho de uma família originária das Antilhas (onde seu avô paterno é motorista de táxi), Hamilton é uma exceção. Driblou as estatísticas para atingir o topo – lugar, em geral, reservado aos brancos. Assim como o piloto inglês, outras personalidades da política, das artes, da Justiça, da moda, da ciência e dos negócios têm conseguido se sobressair em suas áreas e mostrar a força negra que supera as adversidades. O Brasil, pela primeira vez, tem um negro como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF): Joaquim Barbosa.
Na Esplanada dos Ministérios, dividem espaço os ministros Orlando Silva (Esportes) e Gilberto Gil (Cultura), além da secretária de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. E, nos EUA, o democrata Barack Obama tem chances de se tornar o primeiro presidente americano negro.
No Brasil, onde reside a maior população negra do mundo depois da Nigéria, há avanços a serem comemorados. Embora estejam em desvantagem em relação aos brancos em todos os indicadores econômicos e sociais, os negros estão aumentando sua participação na sociedade. Uma pesquisa do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, com base em dados do IBGE, constatou que, em 2004, os afrodescendentes eram 15,8% da elite – o 1% mais rico do País. Um crescimento significativo em relação aos 9,1% de 1992. "Se derem as mesmas oportunidades, haverá mais igualdade no mercado de trabalho", diz o ministro Orlando Silva.
A expectativa é de uma melhora desses números com programas de inclusão e ações que coloquem a sociedade em xeque. Em 2003, o advogado Humberto Adami, do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental, impetrou representações no Ministério Público do Trabalho em todos os Estados e no Distrito Federal, requerendo informações sobre desigualdade no mercado de trabalho nos setores bancário, industrial e comerciário. "As sentenças foram julgadas improcedentes, mas os bancos mudaram sua posição depois disso", diz ele. Hoje, muitos bancos têm divisões focadas na promoção da diversidade. O ABN-Amro é um dos pioneiros. De 2001 para cá conseguiu ampliar a parcela de negros na instituição de 9,5% para 13%.
Em outros segmentos, eles também estão conquistando espaço. Para isso, empreenderam duros esforços. Cesar Almeida é diretor de negócios da Siemens. Filho de um oficial da Aeronáutica, formou-se em engenharia eletrônica, fez pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas e um programa de MBA nos EUA. "A pirâmide educacional é degradê. No primário há diversas crianças negras, mas no topo praticamente só tem brancos", diz. Já a pesquisadora Sônia Guimarães fez mestrado e doutorado na Inglaterra e, na volta ao Brasil, tornou-se professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), um reduto masculino. Hoje é gerente de um projeto de pesquisa do Instituto de Aeronáutica e Espaço do Centro Técnico Aeroespacial. "Não acreditam no que faço", diz ela. "Acho que tenho de andar com meus diplomas num portfólio." A discriminação, vale lembrar, é crime inafiançável. "O Brasil tem uma boa legislação antiracista. O problema é a sua eficácia", diz o sociólogo Sergio Costa, do Cebrap. Uma pesquisa feita pela entidade no Tribunal de Justiça de São Paulo mostra que há uma conexão entre aplicação da lei, manifestações do movimento negro e aparição do tema na imprensa.
TOPO Almeida fez curso nos EUA. É diretor de negócios de multinacional
Ainda há muitos obstáculos a ser superados, é verdade. Mas, se a presença na mídia ajuda, há mais dois belos exemplos para estimular a busca por maiores oportunidades – a palavra- chave salientada pelo ministro Silva. A modelo Emmanuela de Paula tenta tirar proveito de ter a cor da pele como diferencial. Moradora em Nova York desde 2005, ela já fez editoriais para a Vogue America, desfilou pela Ralph Lauren e recentemente ingressou na campanha da grife Victoria’s Secret. "O mercado é menor para negras, mas, se você trabalha bem, te aceitam", diz ela. É o talento, por exemplo, o diferencial do ator Lázaro Ramos. No ano passado, em sua estréia na tevê, garantiu o sucesso da novela Cobras e lagartos.
Ele diz, no entanto, que é preciso chamar a atenção para o racismo no Brasil, inclusive pela via da dramaturgia. "Ainda não tivemos um herói de novela interpretado por negro", diz Lázaro. É uma questão de tempo.