04/03/2009 - 10:00
Ok, a brasileira Paula Oliveira se automutilou, protagonizou um baita vexame ao se dizer vítima de xenofobia na Suíça e quem embarcou na sua onda, como o chanceler Celso Amorim, do Itamaraty, pagou um mico histórico. Mas a notícia mais importante dos Alpes nos dias atuais nada tem a ver com a brasileira. O que se discute é o fim da Suíça como o maior – e mais descarado – paraíso fiscal da história da humanidade.
Tudo porque o principal banco do País, o UBS, também decidiu se automutilar, ao admitir, sob pressão, que poderá abrir para autoridades dos Estados Unidos os nomes de 250 correntistas, que teriam sido ajudados pela instituição financeira a evadir recursos e sonegar impostos. A decisão é histórica, uma vez que o sigilo bancário é um dogma que vem desde 1714, quando banqueiros suíços começaram a gerir os recursos da monarquia francesa. Desde então, a Suíça é o país do chocolate, dos relógios precisos e da maior lavanderia de dinheiro do mundo.
Com essa "vantagem comparativa" em política bancária, a Suíça se transformou ao longo dos anos num ímã para a atração de 90% do dinheiro sujo do mundo, proveniente do tráfico de drogas, do contrabando, da sonegação e da corrupção executada em países ricos ou em repúblicas bananeiras. Pelo menos em matéria de dinheiro, a Suíça jamais foi xenófoba. Ao contrário. Mas a pressão para que a lavanderia dos Alpes seja fechada é cada vez maior.
As autoridades americanas pedem 52 mil nomes e os ministros das Finanças da Europa também estão aumentando o cerco sobre o país das contas numeradas. No Brasil, alguns representantes de bancos suíços chegaram a ser presos recentemente e há um grupo de policiais que tenta imputar crimes de evasão aos presidentes mundiais de bancos como UBS e Credit Suisse – estima-se que o dinheiro ilegal mantido por brasileiros no Exterior seja superior a US$ 70 bilhões.
Com a farsa do caso Paula Oliveira, a imprensa suíça aproveitou para destilar velhos preconceitos contra o Brasil. Um deles, o de que as mulheres daqui são contumazes aplicadoras do chamado "golpe da barriga". Mas se há um país no mundo que não pode emitir juízos morais sobre qualquer outro, este lugar é a Suíça, conhecida por seus exércitos mercenários e pelo pragmatismo no trato com o dinheiro sujo. Se o paraíso fiscal dos Alpes de fato vier a derreter, cairá uma das últimas reservas imorais da humanidade.