O laudo número 360/2006 do Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, apresenta um capítulo especial sobre a Samos Participações Ltda. Trata-se da empresa que o ministro Walfrido dos Mares Guia diz ter sido constituída para administrar os bens de sua família. Por meio de consulta nos sistemas da Secretaria da Receita Federal, os peritos constataram que o ministro tem 99% da Samos e sua mulher, Sheila Emrich, 1%. Os peritos também descobriram, no entanto, que a Samos não foi criada por Mares Guia. A empresa, diz o laudo, foi aberta em 2 de janeiro de 2002 e dela faziam parte dois sócios: a NN Holding do Brasil e a Novo Nordisk Farmacêutica do Brasil. O ministro só entrou na sociedade dias depois e, em 27 de março do mesmo ano, os dois sócios pioneiros deixaram a empresa. Ou seja, durante cerca de três meses, Mares Guia foi sócio da NN Holding do Brasil e da Novo Nordisk Farmacêutica do Brasil.

A Nordisk é um laboratório dinamarquês especializado na venda de hemoderivados. O responsável por ele na América Latina é Sérgio Krishnamurt Noschang. No ano passado, Noschang foi indiciado junto com outras 41 pessoas como integrante da Máfia dos Vampiros, que desviou cerca de R$ 2 bilhões do Ministério da Saúde. Segundo a Polícia Federal, Noschang pagava propinas a servidores públicos para fraudar licitações e vender insulina com preços superfaturados para o Ministério da Saúde. Na quinta-feira 20, ao tomar conhecimento do conteúdo do laudo 360/2006, o ministro, através de sua assessoria, apresentou uma outra versão para a sua participação na Samos. Disse que criou a empresa para "administrar o passivo relacionado à venda da Biobrás para a Novo Nordisk".

Foi em 2002, ano de criação da Samos, que a Receita Federal descobriu a incompatibilidade das movimentações financeiras da empresa com os rendimentos declarados, que caracterizam "indícios de irregularidade tributária". Mares Guia declarou uma receita de R$ 1,1 milhão naquele ano, mas a Receita descobriu que ele movimentou R$ 22,2 milhões pela Samos, 20 vezes mais. As planilhas que o Banco Central enviou à PF mostram que o ministro movimentou dinheiro da Samos durante a sociedade com a Novo Nordisk. No dia 12 de março de 2002, por exemplo, consta operação bancária da Samos com uma transferência de R$ 497 mil, na qual o "beneficiário" é Mares Guia. Essa é uma das razões que levaram a Polícia Federal a pedir a quebra do sigilo bancário e fiscal da Samos.