20/07/2005 - 10:00
Iguanas capazes de se moverem na água, tartarugas terrestres com mais de 250 quilos e pássaros não encontrados em nenhum outro lugar do mundo – como o mergulhão de pés azuis – chamaram a atenção do naturalista inglês Charles Darwin quando o navio Beagle, no qual percorreu a América do Sul, atracou nas ilhas Galápagos em setembro de 1835. Esses animais ajudaram o cientista a formular a teoria da seleção natural, segundo a qual as diferentes espécies apresentam mutações ao longo das gerações e a luta pela vida faz com que as alterações favoráveis sejam perpetuadas. Hoje, 170 anos depois, a mesma região arrasta 70 mil turistas por ano para as 19 ilhas e mais de 40 ilhotas de origem vulcânica localizadas no oceano Pacífico, a mil quilômetros da costa do Equador. Cerca de 30 empresas realizam roteiros de até sete dias na região, com hospedagem em cruzeiros (uma das melhores opções é o Santa Cruz, da Metropolitan Touring, maior operadora de turismo do país) ou em pousadas localizadas nas ilhas maiores.
Patrimônio natural da humanidade desde 1978, o Parque Nacional de Galápagos receberá mais de 120 mil visitantes ao ano até o final da década, segundo previsão do Fondo Mixto de Promoción Turística del Equador. “Será atingido o limite de visitantes”, adianta o diretor da entidade, Patricio Tamariz Dueñas, contrariando a análise de alguns ambientalistas, para os quais o número de turistas já transcende o tolerável. “Por isso estamos concentrados na divulgação de outros destinos. Muitos americanos e europeus que visitam Galápagos nem sequer desembarcam no continente”, diz.
Em 2005, serão investidos US$ 8,8 milhões em promoção                do turismo do Equador
 no exterior, dos quais US$ 217 mil no Brasil. Hoje, o Equador recebe                792 mil visitantes por ano, entre os quais dez mil brasileiros.                A meta é dobrar esses números até 2008.
 O governo busca ainda triplicar o ingresso de divisas por meio do                turismo e promete transformá-la na segunda maior fonte de                renda do país (atualmente perde para o comércio de                petróleo e de bananas). Seu maior trunfo é a diversidade                de cenários
 em um território tão reduzido. Em 256 mil quilômetros                quadrados (o Estado de São Paulo tem 248 mil), é possível                conhecer a costa do Pacífico, a Floresta Amazônica                e
 os mais de 100 vulcões que compõem os Andes equatorianos,                muitos deles em atividade. O mais alto é o Chimborazo, com                6.310 metros de altitude, escalado em 1802 pelo viajante alemão                Alexander von Humboldt. Vinte anos depois, o gigante inspirou o                libertador Simon Bolivar a escrever o famoso texto Meu delírio                sobre o Chimborazo, numa época em que ainda não                havia ali a cidade de Riobamba. A
 fazenda que serviu de hospedagem para Bolivar abriga hoje o restaurante                El Delírio, cobiçado ponto turístico da cidade.
Uma ferrovia conhecida como Avenida de los Volcones acompanha a cordilheira. Sobre os trilhos, antigos vagões e modernos bondes movidos a diesel partem de Quito e levam passageiros locais e viajantes estrangeiros por curvas de tirar o fôlego. O barato do percurso é tomar acento no teto do trem: a paisagem compensa o vento frio. O trecho mais interessante liga Riobamba à montanha conhecida como Nariz del Diablo, no vilarejo de Alausi, e custa entre R$ 27 e R$ 100, conforme o trem. Os mais exigentes devem optar pelo Chiva, inaugurado em junho. A novidade possui confortáveis cadeiras sobre o capô, enquanto o máximo de conforto dos demais são estrados de madeira.
Etnias – Percorrer o país é                como folhear um livro sobre civilizações ameríndias.
 A cada província, roupas e costumes denunciam a diversidade                de etnias. Em Cuenca, por exemplo, “cholas” –                mulheres de descendência indígena – perambulam                pelas
 ruas com chapéus de feltro, dentes de ouro e coloridas saias                plissadas. Alguns quilômetros ao norte, no município                de Ambato, artesãs da etnia salasaca comercializam tapetes                e roupas de lã. São os próprios índios                cañari, muitos deles estudantes de história, que guiam                os visitantes entre construções de seus antepassados                no sítio arqueológico de Ingapirca. O vilarejo foi                dominado pelos incas em 1480 e totalmente arrasado em 1534, quando                chegaram os espanhóis. Já em Otavalo, a maior feira                indígena da América do Sul se estende por dez quarteirões,                abarrotados de ponchos, xales, tapetes, máscaras, instrumentos                musicais e um sem-número de badulaques elaborados com lã                e pedra por índios de diferentes origens, os mesmos que vendem                frutas, animais e eletrônicos trazidos do Paraguai.
Duas horas ao sul de Otavalo, Quito se reinventa. Há dez                anos, o governo deu início
 a um processo de recuperação do centro histórico,                tombado pela Unesco em 1978. Finalmente, a população                pode se orgulhar da luz âmbar que assinala os prédios                públicos e do casario colonial preservado entre dezenas de                igrejas. Muitas residências foram transformadas em lojas,                hotéis e restaurantes. Antigos moradores foram pressionados                a trocar o centro por bairros afastados ou conseguiram adequar
 suas fachadas ao novo padrão.
Símbolo da nova Quito é o teleférico inaugurado no sábado 2, na parede oriental do vulcão Pichincha, no centro da capital. Concluído a toque de caixa após um ano de obras financiadas por argentinos, colombianos e equatorianos, tem arrastado mais de duas mil pessoas por dia ao mirante, 4.050 metros acima do nível do mar. Do alto, uma visão privilegiada da capital e dos vulcões Cayambe, Antisana e Cotopaxi, o maior em atividade do mundo, com 5.897 metros. Qualquer sinal de fumaça pode ser traduzido como convite. Vai dispensar?
* Os repórteres viajaram a convite da companhia aérea Taca, do Ministério do Turismo e do Fondo Mixto de Promoción Turística do Equador.