Não que o ex-presidente Fernando Henrique esteja de todo afastado da política. Volta e meia ele ressurge das cinzas, atacando aspectos pontuais do governo Lula. Mas seus movimentos são mais interessantes quando não são claramente visíveis ou quando ele atua como regente oculto da orquestra oposicionista. A marchinha mais recente tocada por essa banda foi a denúncia feita por Jarbas Vasconcelos, em que o ex-governador pernambucano simplesmente acusa o PMDB de ser um partido "corrupto". Mas com uma ressalva: o PMDB corrupto é o que apoia o presidente Lula – e não o que pende para os tucanos e a candidatura de José Serra.

Este PMDB corrupto, atrasado e fisiológico estaria tramando um plano sinistro: o de transformar o Brasil num "Grande Maranhão". Eis aí mais uma imagem retórica tipicamente fernandina. Mas quando foi mesmo que a fisiologia se instalou com força total no sistema político brasileiro? Não terá sido na compra de votos para a reeleição tucana, em 1998? Não foi esse o ovo da serpente? Pragmático enquanto governou, FHC fez do PMDB um dos alicerces do seu governo. Renan Calheiros foi seu ministro da Justiça, Geddel Vieira Lima foi seu líder no Congresso e Eliseu Padilha (que era chamado de Quadrilha) cuidou dos Transportes. Esse pragmatismo deixou uma suspeita no ar: a do governo que, se não roubava, ao menos deixava roubar. Aliás, foi também durante o governo tucano, em 2001, que se criou a verba indenizatória dos parlamentares.

Os ataques ao PMDB do Grande Maranhão, chefiado por José Sarney, interessam ao governador paulista, José Serra. Mas o curioso é que, na disputa presidencial de 2002, FHC trabalhou silenciosamente pela vitória de Lula – e não do candidato do PSDB. Como o Brasil estava à beira de uma moratória, o PT fracassaria e FHC seria chamado de volta ao poder, nos braços do povo.

O presidente-operário que hoje tem 84% de popularidade entraria para a história como "Lula, o Breve". As coisas tomaram outro rumo e, hoje, ao contrário de seu sucessor, FHC nem sequer é um bom cabo eleitoral. Ele tem ideia fixa em 2010 – tanto ou até mais do que o presidente Lula -, mas tem de se contentar com a política de bastidores. Aquela que não é muito visível, mas que, às vezes, deixa o rabo de fora.