20/07/2005 - 10:00
Depois de mais de três anos de idas e vindas, a aquisição de caças supersônicos para substituir os velhos Mirage IIIEBR da Força Aérea Brasileira (FAB), adquiridos na década de 70 para proteção do espaço aéreo da capital federal, acabou em uma bela meia-sola. Na sexta-feira 15, o presidente Lula assinou em Paris o contrato de compra de 12 aviões Mirage 2000-C de segunda mão por 60 milhões de euros (pouco mais de R$ 170 milhões). Não foi um mau negócio – cerca de 5 milhões de euros por unidade –, mas está a quilômetros de distância dos supercaças oferecidos durante o tempo de validade do Programa FX. Além da compra dos caças, o FX (no valor de US$ 700 milhões) previa a transferência da tecnologia supersônica para os parceiros brasileiros dos consórcios internacionais que apresentaram propostas, entre eles o da Embraer com a francesa Dassault. O programa acabou caducando no início do ano por falta de decisão do governo brasileiro.
Os caças que deverão chegar ao Brasil no início                de 2006 são utilizados pelas
 Forças Aéreas de sete países e estiveram em                combate nas guerras dos Bálcãs,
 em bombardeios no Afeganistão e nas operações                aéreas no Iraque, pouco antes
 da invasão dos americanos. Bem mais modernos que os Mirage                que estão
 voando aqui, os caças franceses transportam até seis                toneladas de armamentos
 e desenvolvem uma velocidade de até 2.100 km/h, superior                a velocidade do som. “Diante da situação em                que se encontram os nossos caças, a vinda dos Mirage
 2000 é um alívio para a FAB”, diz Cláudio                Luchesi, editor da revista Asas,
 especialista na área de aviação. O problema,                segundo ele, é que não teremos transferência                de tecnologia, ou seja, vamos continuar dependendo das grandes empresas                multinacionais. Com vida útil para mais dez anos, os Mirage                usados,
 de acordo com especialistas, podem garantir no futuro a compra de                caças novos
 dos fabricantes franceses como a Dassault, que ainda tem esperança                de decolar com a parceria da Embraer. Além dos 60 milhões                de euros, o governo brasileiro
 terá que arcar com mais 30 ou 40 milhões de euros                para adaptar as aeronaves
 às condições brasileiras e treinar novos pilotos.
Rafale – Na avaliação dos especialistas, a compra dos 12 Mirage, em termos de custos, é um belo negócio. Apenas para efeito de comparação, o preço total de 60 milhões de euros corresponde a dois Rafale, o supercaça francês que é hoje o grande interesse da FAB e que tem tudo para ser a escolha definitiva do Brasil dentro de pouco tempo. Quando houve a concorrência do FX, o Rafale era muito caro, em torno de 100 milhões de euros a unidade. Mas uma enorme encomenda de 100 aviões, feita pela Força Aérea Francesa, viabilizou a produção e jogou o preço para baixo. Se esse preço, menos de US$ 45 milhões, for mantido para o Brasil, o negócio tem grande chance de ser fechado. Assim, os Mirage 2000 cumprirão apenas seu papel de quebra-galho, não deixando o Brasil desguarnecido enquanto os Rafale são fabricados. O negócio prevê transferência completa de tecnologia para a Embraer e para o Centro Técnico Aeroespacial (CTA).