25/02/2009 - 10:00
ALPHA VENTUS Para instalar as turbinas foram necessárias centenas de voos de helicóptero
Campeã mundial na emissão de poluentes, a Alemanha arcou durante décadas com o status de vilã do meio ambiente por causa de sua indústria automobilística que manda para o ar anualmente cerca de 860 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Agora o país caminha para reverter essa imagem com ambiciosos projetos de fontes renováveis de energia. Um deles se chama Alpha Ventus Wind Park e envolve a implantação de 12 turbinas eólicas no Mar do Norte, a 45 quilômetros da costa. "Esse é o primeiro dos seis projetos que iremos desenvolver até o final deste ano", diz o ministro dos Transportes, Obras e Planejamento Urbano, Wolfgang Tiefensee. "Nossa meta é a construção de 30 parques nos mares Báltico e do Norte, com C duas mil turbinas até 2020." Atualmente a energia eólica na Alemanha, somada a outras fontes "limpas" como, por exemplo, a solar, representa 15% do consumo energético do país. O objetivo é aumentar esse índice para 25% nos próximos 11 anos.
Os bons ventos da fonte eólica farão com que a Alemanha dependa menos de outros países nesse terreno. Hoje ela ainda importa energia da Polônia (23%), da África do Sul (22%) e da Rússia (20%). No setor de gás natural, a sua produção atende 20% da demanda interna para geração de eletricidade e o restante tem de ser importado da Rússia, Noruega e Holanda. A matriz de energia alemã é composta basicamente de usinas termelétricas de fontes não renováveis: carvão mineral (50%), urânio enriquecido (26%) e gás natural (11%). A geração anual de força está na casa dos 650 terawatts. A título de comparação, com maior território e população, a produção brasileira é menor, em torno de 400 terawatts por ano. Dados estatísticos europeus apontam a Alemanha como a maior reserva de carvão da União Europeia e uma das principais produtoras e consumidoras desse combustível em todo o mundo. Para substituir parte dessa energia "suja" de carvão pela energia "limpa" dos ventos, as turbinas terão de girar como nunca.
Elas estão sendo implantadas e projetadas para uma altura de 143 metros, isso em pleno oceano, com investimento individual na casa de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 3 bilhões). Segundo o governo alemão, cada 12 turbinas construídas abastecerão 60 mil casas e, quando o projeto todo estiver funcionando, os 25 mil megawatts gerados pelo sistema eólico manterão, por exemplo, 130 milhões de televisores funcionando ao mesmo tempo.
Apesar de as intenções estarem de bem com a natureza, o Alpha Ventus Wind Park encontrou duas fortes barreiras. Uma delas veio do Ministério do Meio Ambiente, que exigiu detalhes da construção para que ela fosse rigorosamente monitorada. Superada essa fase, teve-se de enfrentar a dificuldade de transporte e instalação de pesados equipamentos eólicos. "Para levantar turbinas em meio ao oceano foram necessários incansáveis vaivéns de helicópteros e centenas de engenheiros que para apertar um único parafuso precisavam de guindastes", diz o ministro Tiefensee. ,
Apesar de a Alemanha estar limpando a sua energia e sua imagem junto aos ambientalistas, existe ainda um problema – e ele vai perdurar porque nesse ponto entra em cena a natureza. Energia eólica é ótima, mas ficase ao sabor dos ventos. Quando eles arrefecem, a Alemanha tem de lançar mão dos centros produtores de reserva, que utilizam óleo e carvão, ou seja, fatores consideravelmente "sujos". O ideal para um país altamente poluidor, segundo os ambientalistas, seria a utilização, quando se precisasse de outros meios que não os ventos, de fontes ainda mais alternativas, como a energia solar e os biocombustíveis.