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De vítima a indiciada. É este o resumo da história da brasileira que disse ter sido atacada por neonazistas na Suíça e abortado as filhas gêmeas. Na quinta-feira 19, a Promotoria Pública do país informou que a advogada Paula Oliveira admitiu a autoridades ter inventado a gravidez e se automutilado. A confissão, por escrito, teria ocorrido na semana anterior, na sexta-feira 13, enquanto ainda estava internada no hospital universitário de Zurique. "A brasileira de 26 anos que tinha dito que foi atacada no dia 9 de fevereiro na estação de trem de Stettbach, em Zurique, voltou atrás em suas afirmações à polícia", diz o comunicado. Paula teve o passaporte bloqueado e está impedida de deixar o país.

Segundo as autoridades suíças, consta do depoimento que ela teria comprado a faca em uma loja de objetos domésticos, na saída do trabalho, e feito os cortes em seu corpo, nos quais se lê SVP (Partido do Povo Suíço), no banheiro da estação. A motivação? "Pergunte a um psiquiatra", teria dito Paula, que trabalha como coordenadora de vendas da multinacional dinamarquesa Maersk no escritório de Zurique. O episódio causou um constrangimento diplomático para o Brasil. Até saber que os exames mostraram que ela não estava grávida quando foi socorrida, o País cobrava das autoridades suíças providências contra o suposto ataque xenófobo. A advogada teria planejado e executado tudo sozinha, mas os investigadores desconfiam da participação do namorado dela, o consultor financeiro suíço Marco Trepp, 39 anos. Trepp não visitou Paula no hospital, onde ela ficou internada seis dias, e teria viajado para o interior do país.

"Vamos ver se o que ela fez tem a ver com o distúrbio psicológico causado pela doença"

Silvio Oliveira, tio de Paula

De acordo com a revista suíça Die Weltwoche, a polícia investiga a possibilidade de Paula ter agido por motivação financeira, premeditando utilizar a agressão para processar o Estado e obter uma indenização para vítimas de ações de xenofobia. O valor poderia chegar a R$ 200 mil. Outra publicação, o Tages Anzeiger, afirma que a advogada inventou a gestação para forçar um casamento com o namorado e conseguir o visto de permanência na Suíça, que expira no fim do ano.

 

AUTOFLAGELO

Paula teria comprado uma faca na saída do trabalho e cortado o próprio corpo no banheiro de uma estação de trem nas proximidades de Zurique

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 "Vamos ver se o que ela fez tem a ver com o distúrbio psicológico causado pela doença que ela sofre", diz Silvio Oliveira, tio de Paula. Segundo a família, ela tem lúpus há oito anos. Trata-se de uma doença crônica que provoca a produção de anticorpos que podem atingir os órgãos do sistema nervoso central e gerar surtos psicóticos. "Se for isso, sinto pena dela. Mas se, do contrário, ela for uma pessoa capaz, é decepcionante para a família", diz o tio. Portadores dessa enfermidade, que não tem cura, podem conviver com problemas como mudanças de humor, ataques epiléticos e perda de contato com a realidade.

O advogado Roger Müller, que defende a brasileira, planeja usar o lúpus como atenuante. Por fraude contra a administração da Justiça, Paula foi enquadrada no artigo 304 do Código Penal suíço, que prevê prisão de até três anos. Ela ainda será ouvida pelo promotor Marcel Frei, que cuida da investigação. Segundo a revista Die Weltwoche, a cônsul-geral Vitória Cleaver acompanhou a confissão de Paula. O Itamaraty afirmou que não se pronunciará sobre o fato e continua prestando assistência para a brasileira e sua família, apesar da saia-justa provocada pelo episódio.