13/07/2005 - 10:00
A advogada Luciana Ferraz, 35 anos, há muito não desfruta de todos os prazeres da cama. Apesar de ter jurado, há cinco anos, ficar ao lado de Wagner, 40 anos, na alegria e na tristeza, ela confessa: “Deus que me perdoe, mas não agüento mais esse homem.” O desespero de Luciana não tem nada a ver com a performance sexual do marido. O tormento vivido por ela é que seu parceiro, assim como 50% dos brasileiros da sua idade, não pára de roncar. O problema, que atinge também 5% das mulheres, coloca casais em pé de guerra. Pesquisa da Universidade de Surrey, na Grã-Bretanha, revela que o som proporcionado pelos parceiros roncadores tem levado as mulheres a perderem até cinco horas de sono por semana. Mas no Brasil muita gente está voltando a dormir como um anjo depois de recorrer a uma solução simples que ganha cada vez mais espaço: um aparelho bucal parecido com os ortodônticos, cujo preço varia de R$ 600 a R$ 2 mil. O aparato, chamado de aparelho intra-oral, reposiciona a mandíbula. Isso é importante porque uma das causas do problema é a localização do queixo, voltado para trás.
O ronco é a tradução sonora da diminuição da entrada de ar pelas vias aéreas devido ao estreitamento da garganta na parte posterior à úvula (conhecida como campainha) e atrás da base da língua. Outros fatores que geram esse estreitamento são excesso de peso, consumo de álcool e cigarro. Para “romper” essa obstrução – que ocorre principalmente pelo relaxamento da língua na hora do sono –, o corpo faz um esforço respiratório para oxigenar os pulmões. Com esse movimento, a campainha vibra, fazendo o barulho. Por isso, o aparelho intra-oral é recomendado para uso noturno. Basta usá-lo para corrigir a passagem de ar. Mas, para que seja eficaz, é preciso que esteja ajustado ao desenho da boca. Daí a necessidade de ser indicado por dentistas. Pioneiro no uso dos aparelhos no Brasil, Ricardo Castro já desenvolveu dez modelos. “Existem tipos até para as pessoas sem dentes”, afirma.
Com o uso do aparelho, o empresário paulista Edu Mellane livrou-se de uma crise conjugal. “Não me separei porque saía do quarto todas as noites”, conta. Outro dado é que o indivíduo que sofre desse mal se sente torturado quando tem de dormir em território desconhecido. “Tinha vergonha de passar a noite na casa de amigos ou dividir um quarto de hotel”, recorda-se Wagner Ferraz, que agora usa o aparato.
Se os transtornos sociais e psicológicos não bastassem, ainda há o risco para a saúde. O estreitamento das vias aéreas é um dos principais sinais da síndrome de apnéia obstrutiva do sono, que bloqueia a passagem do ar por cinco a dez segundos, várias vezes durante a noite. Esse quadro pode acarretar graves conseqüências. “Vítimas de apnéia têm três vezes mais chances de sofrer de hipertensão e infarto, além da sonolência diurna”, diz Castro.
Além dos aparelhos, outras alternativas contra o ronco são o respirador mecânico – o aparelho mantém a respiração uniforme e constante – e evitar alimentos pesados pelo menos três horas antes de se deitar. São medidas que ajudam. Afinal, ninguém merece dormir com um barulho desses.