Judith Miller, 54 anos, repórter do The New York Times, foi mandada na quarta-feira 6 para a prisão por um juiz federal dos Estados Unidos. O motivo da sentença é a recusa da jornalista em prestar depoimento numa investigação sobre um caso de revelação da identidade de uma agente secreta da CIA. Miller alega que a confiabilidade da imprensa será abalada de forma irreparável caso as identidades de suas fontes anônimas forem divulgadas no processo. O conceito é considerado dogma universal da imprensa livre. A detenção de Judith Miller adquire, desse modo, significância global, pois a democracia americana serve de bússola para outras nações.

O caso teve início com a divulgação do nome da agente da CIA Valerie (Plame) Wilson. Acredita-se que membros da Casa Branca, principalmente Karl Rove, o guru político do presidente, tenham feito a revelação. O motivo para a quebra de sigilo teria sido uma vingança contra o marido de Valerie, o ex-embaixador Joseph Wilson IV. O diplomata fora enviado em missão de averiguação em Níger, onde o governo Bush acreditava que a Al-Qaeda e agentes de Saddam Hussein teriam tentado comprar urânio para a fabricação de uma bomba nuclear. Esta teoria mostrou-se falsa e o próprio Wilson ajudou a derrubá-la.

O veterano colunista conservador Robert Novak foi quem primeiro publicou o nome da agente. O promotor especial Patrick Fitzgerald foi encarregado de investigar a origem da informação. Robert Novak mantém-se calado e não se sabe se prestou depoimento. O centro do caso passou a ser a repórter Judith Miller e seu colega da revista Time, Matthew Cooper. Este último escreveu artigo no site da Time, dizendo que também ficara sabendo da ligação de Valerie com a CIA através de membros
do governo. O curioso é que Miller, apesar de ter investigado a questão, nunca publicou nada sobre o assunto.

Os dois jornalistas foram intimados a entregar suas anotações, mas recusaram-se a fazê-lo. Tanto a empresa Time Warner, dona da Time, quanto o The New York Times apelaram contra a intimação. “É preciso que o Congresso formule um escudo protetor para estes casos em nível nacional”, disse Bill Keller, editor executivo do NYT. A briga chegou à Suprema Corte, que se recusou a ouvir o caso, deixando o campo aberto para a prisão de Cooper e Miller.

A Time, depois disso, entregou as anotações de Cooper ao promotor, a despeito de protestos do repórter, que estava disposto a ir para a cadeia. Mas, na manhã em que iria enfrentar a ordem de prisão, a fonte que o jornalista estava protegendo autorizou-o a quebrar o sigilo. Quem não teve tanta sorte foi Judith Miller, que foi mandada para o Centro de Detenção de Alexandria, na Virgínia, até que resolva depor ou que os trabalhos tenham sido encerrados, em outubro próximo. Sua coragem, porém, está de acordo com o espírito da democracia americana imaginada pelos fundadores da nação, e presta também um grande serviço ao jornalismo no planeta.