Foi como se o Google, o gigante de buscas na web, tivesse consultado a si mesmo: qual é a relação entre a população mundial e o número de celulares existentes no planeta? A resposta, baseada em recentes pesquisas britânicas, é que um a cada dois habitantes se vale desse tipo de telefonia. A partir desse suculento índice, o matemático Sergey Brin e o engenheiro Larry Page, ambos americanos, criadores e donos do site, tiveram então a ideia de acrescentar-lhe à função de "grande buscador" de informações o serviço de "grande buscador" de gente. Assim, na semana passada, Page e Brin anunciaram nos EUA um novo programa de computador chamado Latitude, capaz de localizar pessoas em 27 países (incluído o Brasil), a qualquer hora do dia ou da noite. Para utilizar o serviço, basta que o usuário possua um celular e o cadastre no programa. Receberá uma senha (através de mensagem de texto em seu aparelho) e, por meio dela, poderá localizar ou ser localizado em um mapa que se abrirá na tela do computador. Detalhe: somente poderá localizar ou ser localizado quem, digamos assim, fizer parte do "jogo". Não ocorre, portanto, invasão de privacidade, uma vez que precisa haver autorização recíproca das partes. O serviço funciona em celulares BlackBerry, Android e demais computadores de mão. Para um site que, em média, acusa 200 milhões de acessos por dia e fechou o último trimestre de 2008 com sua marca avaliada em US$ 86 bilhões, o Latitude será provavelmente mais um negócio promissor – e de utilidade e divertimento para os internautas.

O casamento da informação rápida com a diversão variada sempre foi, na verdade, a chave de sucesso do Google desde a sua criação, em 1996. Mais importante ainda, do ponto de vista do público: pode-se utilizá-lo de graça, já que a propaganda é o que o alimenta financeiramente. Dentro desses princípios, destacam-se atualmente, por exemplo, os programas Earth e Google Ocean. Através do primeiro, tem-se o globo terrestre em 3D, a partir de imagens de satélites, permitindo ao internauta identificar cidades e, nelas, até ruas. Na quarta-feira 11 o músico americano Nathan Smith anunciou que localizou um tesouro numa fazenda da cidade texana de Aransas Pass: "Eu estava brincando de encontrar o telhado da minha casa quando me deparei com o tesouro." Outra possibilidade com o Earth é "visitar" o Museu do Prado, na Espanha: detalhes das obras que são imperceptíveis ao vivo saltam aos olhos no Google, que se vale de 14 gigapixels de resolução em sua "exposição virtual". Já a outra vedete, o Google Ocean, mergulha com o internauta em regiões inexploradas dos mares. Com a implantação de cada programa o Google gasta, em média, US$ 7,5 milhões. Apostava-se de saída no sucesso do Earth e do Google Ocean, mas temia-se pelo retorno de interesse em relação ao serviço que disponibiliza fotos do solo de Marte. De fato é um dos menos acessados e a razão é simples: ainda é acanhada a diversidade das imagens marcianas.

1- Latitude
Cadastrando o seu celular, o usuário pode ser localizado em qualquer lugar do mundo, através de satélites 

i94698.jpg

2- Google Ocean
De corais a navios naufragados, vê-se tudo com riqueza de detalhes. O serviço indica ainda os melhores lugares para mergulho

i94699.jpg

3- Google Earth
Eis Nova York em terceira dimensão – até com endereços da 5ª Avenida 

i94700.jpg

4- Museu do Prado
As obras do famoso museu, na Espanha, são exibidas em alta defi nição. Através do Google veem-se detalhes que passam despercebidos pessoalmente

i94701.jpg

5- Google Mars
Exibe imagens do solo de Marte. Mostra também fotos atualizadas do pla – neta, enviadas por sondas 

i94702.jpg

 

Se esses são os principais projetos implantados, há outro igualmente ambicioso e milionário que está em fase de montagem – e, falando em ambição, ele teve de ser adiado porque os donos do Google foram ambiciosos demais. Trata-se da Pesquisa Livros do Google. O plano de Page e Brin era simplesmente colocar uma imensidão de obras no ar, ganhar com publicidade sobre elas e não pagar direitos autorais a ninguém. Editoras e autores os processaram. Chegou-se então a um acordo: até 20% dos livros poderão ser disponibilizados sem custo algum, até porque o autor acaba sendo divulgado em todo o mundo. Para digitalizar a obra inteira, abri-la à consulta e faturar com publicidade, o Google terá, no entanto, de deixar 63% aos escritores e seus editores. E, ainda assim, será imprescindível a autorização deles – ou seja, até o Google, o grande irmão que tudo controla e tudo vasculha, tem limite.