06/07/2005 - 10:00
Desde fevereiro passado, quando se tornou membro do Myspace.com, espécie de Orkut para bandas de rock, o americano Billy Corgan, ex-líder do Smashing Pumpkins, tem abastecido os fãs com todo tipo de revelação – da infância pobre aos problemas mentais da mãe. Nada que surpreenda mais que o seu primeiro trabalho solo. Nas 12 ótimas faixas de The future embrace (Warner Music), o careca de Chicago trocou os solos ruidosos por camadas de sintetizadores, baterias eletrônicas e guitarras cheias de efeitos e texturas. O resultado lembra mais o fabuloso Adore (1998) que o normal da antiga banda, criando o fundo perfeito para a voz anasalada de Corgan, que mistura deboche, melancolia e um certo ar de demência.
Em entrevistas, Corgan disse que queria fazer um disco para cima. “É fácil
ser pessimista, difícil é ver a luz por trás das nuvens da sociedade contemporânea”, filosofou. As letras podem até ser positivas, mas não é exatamente alegria o que anima as melodias de I’m ready e Sorrows (in blue). O clima às vezes pesa, remetendo ao andamento soturno-dançante do New Order e especialmente ao
The Cure da fase mais deprimida, como em All things change, que abre o CD. Em
To love somebody, Corgan mostra que não inveja apenas o visual descabelado de Robert Smith, do Cure: convidou o próprio para fazer backing vocal. Mas o que vai deixar os fãs de cabelo em pé é a procedência da canção. Trata-se de uma balada da legítima safra brega do trio australiano Bee Gees. Quem não conhece a versão
de Janis Joplin pode duvidar do gosto de Corgan. Mas o belíssimo cover está a léguas do original.