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Há uma mudança, ainda tímida, em curso no futebol. O goleiro está deixando de ser um jogador que usa exclusivamente as mãos e tem se mostrado útil também com a bola nos pés. Recentemente, em uma mesma rodada do campeonato carioca, os goleiros Bruno e Tiago, do Flamengo e Vasco, respectivamente, marcaram gols para seus times. Bruno soma cinco gols na carreira. Tiago, 16.

Com 83 tentos, o arqueiro do São Paulo Rogério Ceni é o maior goleiro- artilheiro da história do futebol. Mas é na linha que, hoje, ele faz escola. O goleiro-linha é uma evolução, pois, além de defender e chutar em gol, é capaz de desempenhar funções como passe, drible, cobertura, condução de bola e lançamento. É o que fazem, desde a criação do esporte, os outros dez jogadores do time. "Me espelho na tranquilidade do Rogério para sair jogando com os pés", diz Tiago, 25 anos, do Vasco.

Graças a esse diferencial de Rogério, o desenho tático do São Paulo é feito, segundo o técnico Muricy Ramalho, para que a bola saia sempre da defesa. Desta forma, não há a necessidade de lançamento para o ataque e o goleiro dá início à jogada com os pés, trocando passes com os jogadores à sua frente. "Como um líbero", diz o treinador. "Temos sempre um jogador a mais participando do jogo." Assim, o goleiro-linha torna-se uma ótima opção ofensiva, pois dá à equipe posse de bola e vantagens numérica, emocional e territorial sobre o adversário.

No futsal, uma mudança na regra, nos anos 90, obrigou os goleiros a jogarem mais com os pés e alterou o comportamento tático das equipes. No futebol, a regra também foi modificada com esse intuito, mas poucos times tiram proveito disso. Há uma explicação, segundo Wilton Santana, especialista em pedagogia do futsal. "No futsal, os goleiros são treinados para desenvolver o jogo de quadra desde as categorias menores", diz. No futebol, Muricy, do São Paulo, já enxerga uma mudança: "Os treinadores de goleiro estão preparando os atletas de hoje para aperfeiçoarem o jogo com os pés."