18/02/2009 - 10:00
Na neve Isabel Clark é a melhor snowboarder do País
Um jogador se agacha, toma impulso e desliza um disco de granito no gelo. Outros varrem o chão com uma espécie de rodo para ajustar o trajeto da pedra, tentando acertar um alvo do lado oposto do campo. Esses são procedimentos do curling, esporte típico de países frios. No Brasil, não existe sequer uma quadra. Mas, apesar disso, quatro brasileiros radicados em Quebec, no Canadá, disputaram com os Estados Unidos um lugar no Campeonato Mundial, no mês passado. "Muitos acharam exótico ver a bandeira verdee- amarela lá", lembra o curitibano César Kossaka, 40 anos, que formou a equipe há dois anos. Poucos sabem que o Brasil, país com sol quase o ano inteiro, tem cerca de 800 atletas treinando na neve e no gelo, e se prepara para tentar vagas em sete modalidades nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, em 2010. "Queremos ser o primeiro país tropical a ganhar uma medalha", diz Eric Maleson, presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG).
Os esportes de clima frio nunca foram o forte da nação do futebol, mas algumas modalidades, como o esqui e o snowboard, se tornaram praticamente tradição. Em 1992, seis esquiadores inauguraram a participação brasileira nas Olimpíadas de Inverno, em Albertville, na França. Dez anos depois, 11 atletas se classificaram para os jogos de Salt Lake City, nos Estados Unidos. "Foi um recorde inusitado", lembra Maleson, que naquele ano liderava o primeiro time nacional de bobsled – corrida de trenó em uma ladeira sinuosa. Maleson lembra a dificuldade vivida em 1995 para participar da Copa América de Bobsled. "Não me deixaram porque o Brasil não tinha uma entidade que congregasse esse esporte." Ele resolveu criar uma associação de praticantes de três tipos de trenó no gelo (além do bobsled, ela incluía o luge e o skeleton, nos quais os atletas se posicionam deitados). Era o embrião da atual CBDG, que hoje engloba também a patinação artística, de velocidade, o hóquei e o curling. Para 2010, a confederação aposta na classificação do Brasil nas três modalidades de trenó no gelo e tenta, pela primeira vez, uma vaga na patinação artística.
Na neve, o Brasil já obteve um nono lugar nos esportes de inverno, a melhor colocação do País. O feito foi da snowboarder carioca Isabel Clark, 32 anos, nos Jogos de Turim, na Itália, em 2006. Agora, ela tenta sua segunda participação olímpica. Isabel compete em todas as etapas da Copa do Mundo e dos Campeonatos Mundiais de Snowboard – para chegar a Vancouver, ela tem que figurar entre as 25 melhores do ranking internacional nessas competições. O desafio desta semana é em Cypress, no Canadá. "É supermotivante fazer todo o circuito", diz Isabel.
Além de Isabel, o ex-esquiador Stefano Arnhold, presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), aposta na classificação de dois atletas brasileiros no esqui alpino, em Vancouver. Nessa corrida, quanto menor a pontuação, melhor a classificação. O paulista Jhonatan Longhi, 21 anos, é o primeiro do time nacional a esquiar abaixo dos 50 pontos, o que lhe traz ótimas chances para as olimpíadas. Na Itália desde os três anos de idade, Longhi disputa com os vizinhos daqui: "Quero ser mais rápido que os chilenos." Outra promessa nacional no esqui alpino é a carioca Maya Harrisson, 16 anos, que disputa, esta semana, o Campeonato Mundial em Val d’Isere, na França.
Gelada Brasileiros jogando curling: só no Exterior
O País também ainda tenta se classificar no esqui cross country, uma prova de alto condicionamento físico – o competidor se locomove na neve usando as pernas para movimentar os esquis e os braços para mover os bastões. "Os resultados vêm melhorando qualitativamente a cada edição dos Jogos Olímpicos", comemora Marcus Vinícius Freire, superintendente- executivo de esportes do Comitê Olímpico Brasileiro.