Era como se Roberto Jefferson estivesse
armado. A impressão que ficou em quem
assistiu ao seu depoimento na Comissão de
Ética da Câmara, na terça-feira 14, era a de
que o deputado havia sacado de uma metralhadora giratória dentro do salão. Durante quase sete horas, atirou para todos os lados. Foi um arrasa quarteirão. E não ficou pedra sobre pedra. O País parou para assistir, ao vivo, não só porque se tratava de um momento político dos mais importantes, mas também porque se deliciava com um verdadeiro espetáculo. Advogado criminalista experiente, dono de retórica irretocável, Jefferson usou e abusou com maestria de um vasto repertório de oratória, ora com ironia, ora com agressividade, durante sua exposição inicial e ao responder às perguntas dos deputados. Bateu boca com Valdemar Costa Neto e Sandro Mabel. E conseguiu tirar de si próprio o foco da sessão, na qual era acusado de comandar um esquema de corrupção nos Correios, e o transferiu para o PT, em especial a José Dirceu. Mas a metralhadora de Roberto Jefferson não parou por aí. Atingiu ministros, deputados e dirigentes do PT. Há estilhaços de bala para todos os lados:

OS ACUSADOS

José Dirceu O ex-ministro teria sido avisado por Jefferson sobre o mensalão. “Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, o presidente Lula. Rápido, Zé, saia daí rápido”, disse. Dirceu se afastou do cargo dois dias depois, na quinta-feira 16.

Delúbio Soares O tesoureiro do PT teria proposto a Jefferson o pagamento do mensalão a deputados do PTB. Seria ele o responsável pela arrecadação do dinheiro. Segundo o petebista, Delúbio disse, num encontro no início de 2004,
que o PP e o PL já recebiam. Ele nega.

José Genoino Jefferson diz que ele teria conhecimento do mensalão. O
presidente do PT nega.

Sílvio Pereira O secretário-geral do PT seria um dos operadores do esquema.
Ele rechaça as acusações. Silvinho também teria indicado o ex-diretor de
tecnologia dos Correios, onde, segundo Jefferson, estão “60% dos contratos bilionários da estatal”.

Marcelo Sereno O secretário de Comunicação do PT e ex-assessor de Dirceu teria conhecimento do mensalão e, com Genoino e Delúbio, teria oferecido R$ 20 milhões ao PTB, “por fora”, para financiar campanhas.

Marcos Valério Fernandes O publicitário seria responsável por levar o dinheiro
aos deputados. Uma ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Somaggio,
confirmou a ISTOÉ Dinheiro que viu malas de dinheiro na empresa. Mas, na
Polícia Federal, voltou atrás.

Valdemar da Costa Neto Presidente do PL, o deputado é um dos principais
alvos de Jefferson e, segundo ele, peça-chave no esquema do mensalão:
“Eu afirmo que o sr. recebe e repassa”, disse o presidente do PTB. “O sr.
não afirma nada!”, retrucou Valdemar.

Sandro Mabel Deputado pelo PL de Goiás, Mabel receberia o mensalão e teria oferecido R$ 1 milhão, além do pagamento do mensalão, à deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) para que ela entrasse na base do governo.

José Janene O líder do PP na Câmara seria, com o presidente do PP, Pedro Corrêa, responsável por distribuir o dinheiro entre deputados de seu partido.

Pedro Henry Segundo Jefferson, o deputado do PP teria pressionado o petebista José Múcio a aceitar o mensalão para o PTB.

Bispo Rodrigues O deputado pelo PL do Rio de Janeiro seria beneficiado
pelo mensalão.

OS AVISADOS

Aldo Rebelo, Ciro Gomes, Miro Teixeira e Walfrido Mares Guia Foram alertados
por Jefferson, em momentos diferentes, sobre o mensalão. Todos confirmaram
as conversas com o presidente do PTB.

Antonio Palocci O ministro da Fazenda nega que sabia do mensalão: “Eu
disse isso pra ele, olho no olho”, afirmou Jefferson.

AS TESTEMUNHAS

Marconi Perillo O governador de Goiás, do PSDB, foi um dos primeiros a
declarar que, além de já ter ouvido falar no mensalão, havia informado o
presidente Lula sobre ele.

Raquel Teixeira Disse em entrevista ter recebido uma proposta para integrar
um partido da base por R$ 1 milhão, além do mensalão.

José Múcio O deputado do PTB confirma as afirmações de Jefferson de que
estaria presente em conversas com o PP, o PL e o presidente Lula que tiveram
como tema o mensalão.

Emerson Palmieri O ex-tesoureiro do PTB teria presenciado uma reunião na
qual Genoino, Delúbio e Sereno teriam oferecido ao PTB R$ 20 milhões para campanhas. Jefferson diz que foram entregues R$ 4 milhões, não declarados.

O INOCENTE

Lula Jefferson poupou o presidente do tiroteio. “Contei e as lágrimas desceram dos olhos dele. Ele levantou e me deu um abraço. Sei que, de lá para cá, secou. Os passarinhos estão todos de biquinho aberto. As coisas pararam aqui nesta Casa. É síndrome de abstinência. O presidente Lula é inocente disso.”