Há situações em que o tempo parece passar muito rápido. Assim foi na quarta-feira à noite, no Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, no segundo tempo do jogo entre Brasil e Argentina. Surpreendidos pelos três gols fulminantes no começo da partida, os brasileiros, depois de uma apresentação medíocre, tentavam juntar os cacos e continuar uma reação iniciada com um gol de falta de Roberto Carlos. A mudança de atitude do time, nos 45 minutos finais do jogo, justificou uma esperança da torcida. E a raiva, a perplexidade e até o tédio, que a incompetência demonstrada no primeiro tempo provocara, foram substituídos pela expectativa de um resultado melhor contra os nossos eternos irmãos/rivais do sul. E a partir daí veio o desespero e a sensação de o tempo andar muito mais depressa do que as pernas dos nossos jogadores. O resultado, todos sabem: Argentina 3 x Brasil 1. Argentina classificada para o mundial da Alemanha em 2006, e o Brasil ainda não. Sobre a derrota, o presidente Lula, um amante do futebol, disse, no dia seguinte: “Eu nunca sofri tanto na vida como nos 45 minutos de ontem.”

A grave crise política protagonizada pelo presidente, seu partido e por todos nós brasileiros guarda algumas semelhanças e algumas diferenças com o jogo da quarta-feira. Este governo, como a Seleção, também é movido a esperança. A diferença é que a raiva e a decepção que a Seleção provocou no primeiro tempo do jogo lá em Buenos Aires foram substituídas pela esperança no segundo tempo. Já Lula está vendo a imensa esperança do começo do governo ser substituída por raiva, desilusão e perplexidade. E a culpa, lá como cá, é do excesso de arrogância e da conseqüente incompetência. O partido do presidente, como os jogadores brasileiros no primeiro tempo, está perdido em campo, toma um baile dos adversários e apela para jogadas pouco éticas. O time brasileiro precisa se classificar para a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha. Não é difícil. Já 2006 para Lula está cada vez mais complicado. Sua tática de jogo está sendo questionada, boa parte de seus atletas está ameaçada de expulsão e o relógio não pára de correr. Depende do presidente juntar os cacos, mudar de tática, recuperar a coerência e colocar em campo as práticas que o levaram ao comando técnico do País, com o aval de mais de 50 milhões de torcedores. Caso contrário, a derrota será inevitável e os gritos de olé se multiplicarão a cada canelada de um Roberto Jefferson ou de qualquer outro jogador, por mais medíocre que seja seu talento.