15/06/2005 - 10:00
A exemplo de Raymond Chandler e
Dashiell Hammett, o americano de
Oklahoma Jim Thompson (1906-1977)
teve uma infinidade de ocupações antes de se dedicar a escrever as 30 novelas que o tornaram conhecido. Narradas na primeira pessoa, suas histórias eram invariavelmente povoadas por aleijões morais – não raro exuberantes fisicamente. Enquanto abastecia com suas histórias escabrosas os pulps – revistas de detetive impressas em papel barato, muito populares nos anos 50 –, Thompson escreveu diálogos para O grande golpe (1956) e dividiu o roteiro de Glória feita de sangue (1957), filmes dirigidos por Stanley Kubrick.
Vários de seus livros também chegaram às telas, caso de Os implacáveis (1972), dirigido por Sam Peckinpah, e de Os imorais (1990), de Stephen Frears. Este também é o caso dos dois livros de Thompson que acabam de chegar às livrarias. O assassino em mim (Planeta, 240 págs., R$ 39,90), de 1952, foi filmado por Burt Kennedy em 1976, chegando aqui rebatizado Instinto homicida; já 1.280 almas (Ediouro, 184 págs., R$ 32,90), de 1964, teve sua ação transferida para a França, país do diretor Bertrand Tavernier, responsável por A lei de quem tem o poder (1981), inspirado na novela.
As histórias têm muito em comum. Lou Ford, subxerife de Central City, e Nick Corey, xerife do condado de Pottsville, que protagonizam as tramas, respectivamente, embora exerçam um charme irresistível sobre mulheres tidas como insuspeitas, não passam de derrotados, típicos capachos do poder aos olhos dos tacanhos concidadãos. A verdadeira fortaleza dos personagens é invisível, pois vem de dentro. Tanto o delegado Ford como Corey são máquinas de matar dotadas de uma lógica inquebrantável que os faz dizimar amantes, abelhudos, figuras patéticas e espertalhões sem nenhum vacilo.
O principal álibi de ambos é a aura de honestidade cega e servil, típica dos “loser” que aparentam ser. E é aí que reside a originalidade de Thompson. O cinismo frio e telegráfico que aproxima seu texto dos de Hammett e Chandler, entre outros, em vez de descrever a sordidez e a frieza dos serial killers, se torna a voz dos próprios psicopatas, como salienta na apresentação de 1.280 almas o escritor Marçal Aquino, um dos bambas do gênero no Brasil. Thompson conta histórias de dar frio na barriga, que obrigam o leitor a dormir de luz acesa.