15/06/2005 - 10:00
A notícia de que o filho foi preso por suspeita de associação com o tráfico de drogas é uma tragédia pessoal para qualquer pai. Mas se o pai é Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, essa tragédia vem acompanhada de uma dramática carga de ironia. No início da semana passada, o Atleta do Século foi chamado a visitar o filho Edson Cholbi do Nascimento, 34 anos, o ex-goleiro do Santos Edinho, no Departamento de Narcóticos de São Paulo (Denarc). O primogênito real era um dos 50 peixes arrastados na tarrafada da Operação Indra, dada na segunda-feira 6, em Santos, para implodir a quadrilha do traficante Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o Naldinho, ligado ao Comando Vermelho. Dos 50, 13 permanecem presos – Edinho e Naldinho entre eles.
Pelé é agressivo nos negócios, mas nunca aceitou divulgar cigarro e bebida alcoólica. Convidá-lo para combater o uso de drogas sempre foi a maneira mais fácil de convencê-lo a autorizar o uso gratuito de sua imagem. Na eterna troca de farpas com Maradona, nunca perdeu a oportunidade de espetá-lo pela dependência de cocaína. Por isso, ver o filho admitir a dependência em maconha foi uma pancada forte. O Rei, que enfrenta reveses com atitudes polêmicas, mas nunca esmorece, que sabe como poucos descolar a figura mítica da do ser humano, foi despido de seu simbolismo e chorou como mais um. Primeiro, por dez minutos, abraçado ao filho. Depois, enquanto o advogado lia uma carta em que Edinho “reconhecia sua situação de viciado” e pedia perdão “por ter deixado de ser um bom exemplo”. “Sempre fui contra as drogas e agora sou surpreendido. Vou ter que conversar com Deus”, desabafou. “Nunca vi a droga trazer algo de bom para alguém. Apenas prejuízos graves. É só ver Bob Marley, Elis Regina, Maradona…” A inoportuna citação do rival num momento de fragilidade produziu um contra-ataque equilibrado. “Não me cabe comentar. Tenho duas filhas. Desejo a elas o mesmo que desejo ao filho de Pelé.” É a dramática carga de ironia.
Offshore – A Justiça analisa o pedido da defesa para que Edinho seja solto e definido como dependente. Para ele, não poderia haver solução melhor. Segundo as investigações, Naldinho, há cerca de três anos, dominou o tráfico na Baixada, à frente de uma parceria entre o Comando Vermelho (CV) e o paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Logo depois, Naldinho, também conhecido como “Gordão da Luiz Gama” (rua da região do Macuco, em Santos, dominada por ele), aliou-se ao CV e tomou sozinho o controle da Baixada, gerando uma guerra entre as facções que provocou a morte de pelo menos 17 pessoas. Autorizado pela Justiça, o Denarc grampeou nos últimos oito meses os telefones de Naldinho, dono de várias agências de automóveis, e de dezenas de suspeitos de envolvimento com o grupo. Várias ligações são entre Naldinho e Edinho. O diretor do Denarc, Ivaney Cayres de Souza, insiste em não revelar as gravações, mas uma fonte que ouviu as fitas disse a ISTOÉ que os indícios de associação com o tráfico são “claríssimos”. Num ponto, atesta a fonte, Edinho e Naldinho estariam discutindo um contrato de abertura de uma empresa offshore para lavar o dinheiro das drogas, feito por Edinho a pedido do amigo. Naldinho teria discordado de alguns termos do contrato e reclamado da inclusão de um certo Ibrahim. Edinho teria dito: “Não se preocupe, é o melhor para você. Nós temos muitos negócios juntos.” Em outro ponto, Edinho teria sugerido que Naldinho entrasse “com a grana” e ele “com o nome do pai”. Um dos projetos de Edinho era assumir as categorias de base do time da Vila Belmiro. As gravações mostrariam ainda que Naldinho pegaria dinheiro para devolver depois, com ótimo retorno, de empresários, artistas, músicos e até políticos importantes da Baixada Santista. Pelo visto, o jogo mais difícil das carreiras de Pelé e Edinho está apenas nos primeiros minutos.