08/06/2005 - 10:00
A esperança, aquela que venceu o medo nas eleições presidenciais de outubro de 2002, está sendo derrotada pelo tédio. Um desagradável sentimento de enfado, provocado pela inoperância das autoridades diante de problemas que requerem
pelo menos a impressão de que se está tentando resolvê-los. Um cansaço que se transforma em raiva quando deparamos com o ranking da distribuição de renda no qual o Brasil ocupa o 129º lugar, à frente apenas de Serra Leoa, com todo o respeito ao país africano. E essa raiva aumenta quando se percebe que o vergonhoso resultado da pesquisa pode ser aferido e comprovado, no dia-a-dia das grandes cidades brasileiras, pelo aumento da população de pedintes e vendedores de bagulhos em suas esquinas.
Um mal-estar resultante da exposição à enfadonha ranhetice do governo e da oposição com suas intermináveis trocas de acusações. Mal-estar e perplexidade quanto à preciosa energia gasta desde os primórdios desta administração tanto
por petistas que matraquearam sem parar, colocando a culpa de tudo de errado
que acontece na tal da herança maldita, quanto por tucanos, que semearam minas pelo caminho do novo governo, acusando com arrogância, ironia e profundo preconceito a súbita mudança de personalidade dos novos hóspedes de Brasília.
A pouco mais de um ano do pretendido segundo mandato de Lula, o que começa perigosamente a tomar conta da população é esse sentimento indigesto de descrença. E os números também reforçam e confirmam essa tendência. Os juros continuam em alta e o PIB começa a encolher, assim como a popularidade e a aprovação do governo. Com toda certeza, não estaríamos diante deste cenário se houvesse um entendimento civilizado entre PT e PSDB, como já foi defendido aqui neste espaço, muito tempo atrás. E, apesar de soar piegas, utópico e visionário, é também o que pensa e recomenda um petista conhecido como conselheiro do presidente nas horas difíceis, o governador do Acre, Jorge Viana. Confira na entrevista que ele concedeu para as páginas vermelhas desta edição, ao diretor da sucursal do Rio, Mino Pedrosa, e ao editor da mesma sucursal, Ricardo Miranda.