A troca de olhares, o ir-e-vir de sorrisos, o jogo de corpo, uma certa cumplicidade e o papo bom que se estende até quando falta assunto. As delícias de uma boa paquera fazem o coração bater mais forte. Seja pela presença daquela pessoa especial, seja pelo desejo físico ou simplesmente pela própria arte da conquista. Uma arte que pode e deve ser desenvolvida. Afinal, a paquera é o prelúdio de qualquer relacionamento amoroso. E mesmo os mais atabalhoados e tímidos – suando em bicas ou não –, têm que passar por essa etapa. Um pouco de esforço para vencer o medo de se expor e a observação de alguns gestos e atitudes do parceiro ajudam a perceber se a paquera está no caminho certo. Além de aprender as manhas de uma boa abordagem, o candidato a conquistador deve também estar atento ao mercado. Em especial, para não abalar a auto-estima, confundindo escassez de parceiros com falta de atributos próprios. “Dependendo da faixa etária, os parceiros em potencial diminuem, principalmente para as mulheres”, avisa o professor Ailton Amélio, do departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo.

Autor de O mapa do amor (Editora Gente) e com outro livro sobre relacionamento amoroso a ser lançado nos próximos meses, o professor explica que segundo
os dados populacionais do Censo de 2002 não há uma diferença numérica significativa entre homens e mulheres. Nascem mais homens que mulheres, mas eles morrem mais na primeira infância e na juventude e os números vão se equiparando. Só depois dos 40 anos é que sobra um pouco mais de mulheres. Elas sentem precocemente e com intensidade essa diferença porque depois dos 35
têm dificuldade para encontrar um parceiro compatível. Isso acontece porque
elas procuram homens da mesma idade ou mais velhos, enquanto eles estão
de olho nas moças de 20 a 30 anos. “Essa é uma tendência mundial. Vale ainda
o instinto que determina que a mulher jovem, que pode procriar, é mais atraente”, explica Amélio.

Apesar dessa diferença de “interesses”, as balzaquianas que sobram não
são tantas assim. Dos 30 aos 39 anos, temos apenas 3,6% de mulheres
disponíveis a mais que homens, ou seja, para cada 100 mulheres temos 96,4 homens. Só após os 40 é que a diferença vai aumentando. Ainda assim, no total de 20 a 49 anos a diferença porcentual é de apenas 0,23%. Então, por que a percepção é de que há uma carência muito maior de homens no mercado amoroso? “É que esse contingente feminino esperneia muito. A mulher nessa idade sente que
chegou a hora de acasalar e aí tem que disputar também com as viúvas e descasadas”, analisa Amélio.

Autoconfiança – Quanto à timidez, vale o desafio: quem nunca se sentiu embaraçado na frente de alguém muito interessante? Não há dados precisos sobre a timidez no Brasil, mas a estimativa é que 40% dos brasileiros sofram do mal, principalmente na juventude. Em 20% dos casos, o desenvolvimento profissional e a própria maturidade vão amenizando esse desconforto social. Ao ser forçado a encarar as situações, a pessoa vai se soltando e adquirindo autoconfiança. De qualquer forma, a timidez é uma das principais travas para o relacionamento amoroso. O tímido sofre com o pavor de chamar a atenção. E, na conquista, convenhamos, é preciso se colocar em evidência. Aparecer e parecer melhor que os outros. Mostrar atributos é vital. A própria natureza contribui para isso, fazendo o corpo alterar-se sem que tenhamos plena consciência disso. “Os sintomas físicos quando vemos alguém que nos atrai vão desde a taquicardia até a tremedeira, passando por frio no estômago, rubor e sudorese – suor excessivo. Em um nível menos perceptível, as pupilas se dilatam e os lábios entumescem”, explica o terapeuta Sérgio André Segundo, especializado em timidez e relacionamentos amorosos, que mantém a Clínica do Amor e Timidez pelo site www.timidez.com. Nestes momentos, a circulação sangüínea se acelera, o tônus muscular aumenta e a pele e os olhos ganham mais brilho. Também são registradas alterações posturais, como retrair a barriga, endireitar as costas ou estufar o peito. Tudo parte de uma estratégia do corpo para enfrentar o desafio da conquista, tornando-se mais visível e aumentando o impulso de se aproximar.

Ficar à vontade – Se o problema é não gostar de bares e danceterias, lugares preferidos de azaração, nem tudo está perdido. Não há locais específicos para a paquera. Qualquer lugar pode ser o “melhor”, desde que haja a fusão da oportunidade com a habilidade de interação. “Pode ser uma balada, uma reunião de trabalho ou um elevador; o mais importante é a pessoa estar à vontade”, aponta Sérgio André Segundo. Ele defende que nos bares há um grande número de pessoas predispostas a conquistar e ser conquistadas, mas os lugares de interesse pessoal também são bem-indicados. “Se eu adoro arte, são grandes as chances de eu conhecer alguém que aprecie num museu. A afinidade de gostos é um bom ponto de partida para um bate-papo”, explica ele.

Para quem se preocupa com aquela incômoda “falta de assunto,” é bom saber: ficar nervoso ou sem jeito é uma resposta natural a qualquer grande momento de exposição. Uma eficiente saída é apelar para o bom humor e aprender a rir de si mesmo. Pesquisa realizada pela Ipsos World Monitor, com 5.500 pessoas em dez países, entre eles o Brasil, divulgada no ano passado, concluiu que sensibilidade (51%) e senso de humor (32%) são qualidades muito apreciadas no sexo oposto, mais do que boa aparência (8%) ou uma polpuda remuneração (6%). Portanto, abra um sorriso, seja delicado(a) e vá em frente.