08/06/2005 - 10:00
No início da semana passada, a Rede de Climatologia Urbana de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, alertou para a possibilidade de tornados como o que causou prejuízos de R$ 97,2 milhões em Indaiatuba, no interior de São Paulo, voltarem a acontecer ainda este ano. O impacto das imagens de destruição, somado ao informativo gaúcho, dá a impressão de que hoje no País há mais ocorrências desses fenômenos do que antes. O alerta, no entanto, evidenciou discordância entre os especialistas.
Ernani Nascimento, doutor em meteorologia pela Universidade de Oklahoma (EUA) e pesquisador do Instituto Tecnológico de Sistemas de Meteorologia do Paraná (Simepar), diz que as condições favoráveis à formação de tornados só podem ser medidas com algumas horas de antecedência. “Não existe conhecimento suficiente para sabermos se existe uma temporada de tornados no Brasil. Há apenas indícios de que ocorram mais no outono e na primavera, que são épocas de transição”, afirma. Já Eugênio Hackbart, da Rede de Climatologia Urbana de São Leopoldo, atesta que 2005 passa por períodos de desequilíbrio de temperatura semelhantes aos de anos em que os tornados foram mais freqüentes. “O problema é que não se pode dizer nem quando nem onde eles surgirão”, diz Hackbart.
Como os funis de vento se formam em tempestades causadas pelo choque entre massas de ar frio e seco, originadas na Patagônia, e massas de ar quente e
úmido, vindas da Amazônia, o encontro pode acontecer em qualquer lugar entre o nordeste da Argentina, o Uruguai, o Paraguai e os Estados de São Paulo, de Mato Grosso do Sul e da região Sul.
Nos EUA, onde o sistema de detecção por radares meteorológicos é avançado, as previsões acontecem no máximo meia hora antes de o funil de vento tocar o solo e iniciar a destruição. Para tentar evitar estragos, Nascimento, do Simepar, defende que o Brasil deveria ter equipes específicas para o estudo das tempestades severas. “A grande maioria dos desastres naturais brasileiros – enchentes, tempestades, chuvas de granizo e ressacas – tem origem em fenômenos atmosféricos.”
Atualmente, o monitoramento é feito pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). As informações são então repassadas à Secretaria Nacional de Defesa Civil, que avisa as Defesas Civis estaduais. Começa a ser implantado um sistema que avisará, além dos Estados, as prefeituras de 150 municípios. Já é um avanço.