Da mata onde crescia o chamado pinheiro-brasileiro só sobrou 1% para contar a história. A floresta de araucárias chegou a cobrir 40% do Paraná e 30% de Santa Catarina e faz parte da Mata Atlântica – que igualmente agoniza, com apenas 7% de sua área original. Como o Projeto de Lei da Mata Atlântica, que poderia ajudar a conservar o que restou da floresta, acumula poeira no Congresso há 11 anos, governo e sociedade civil se esforçam para tentar salvar a araucária da extinção, mas pode não dar mais tempo.

“Essa floresta está em seu limite. Se não for tomada alguma atitude, ela acaba”, alerta Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica. O risco de extinção da espécie fez com que o governo propusesse a criação de sete unidades de conservação. Cinco delas no Paraná, o que garante a conservação de quase 100 mil hectares, e duas em Santa Catarina, onde uma região de quase 450 mil hectares será considerada Área de Proteção Ambiental e poderá abrigar atividades econômicas desde que elas cumpram a legislação.

Na semana em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, no domingo
5, o Brasil tem pouco a celebrar. Como um presente de mau gosto, há duas semanas foi divulgado o segundo maior desmatamento da história na Amazônia.
De agosto de 2003 a agosto de 2004, se destruiu uma área equivalente ao Estado
de Alagoas (26.130 quilômetros quadrados), e há quem diga que os números
reais são ainda piores.

Depois de devastarem praticamente toda a sua mata nativa, os países desenvolvidos agora prestam atenção na maior floresta tropical do planeta. Na semana passada, o desmatamento da Amazônia foi destaque nos principais periódicos mundiais, que citaram o governador de Mato Grosso (não por acaso o Estado onde mais se devasta), Blairo Maggi, como um dos responsáveis pelo desmatamento. Em editorial, The New York Times disse que “a Amazônia não deve ser usada para benefício privado”. Já o britânico The Independent não mediu palavras e acusou Maggi (maior produtor individual de soja do mundo) de ser “o homem por trás do estupro da Amazônia”. Para o governador, a produtividade do Brasil é o que realmente incomoda os estrangeiros.

O dado concreto é que a Amazônia está virando fumaça. Na fronteira entre Pará e Mato Grosso, a fuligem das queimadas cai do céu o tempo todo. E coloca o governo Lula em uma situação constrangedora. Afinal, o responsável pelo desmatamento recorde é o agronegócio, setor que nos últimos anos sustenta a economia brasileira. A valorização internacional da soja fez com que pecuaristas e madeireiros (esses, em geral, ilegais) se espalhassem mata adentro. E dá-lhe queimada para abrir pastos e áreas de plantio. Para fugir da responsabilidade com o ecossistema, as grandes holdings de soja adotam algumas táticas.

Alternativas – A gigante americana Cargill afirma não plantar soja, mas o faturamento de R$ 11 bilhões por ano dá uma idéia da quantidade de grãos que ela compra de terceiros. “Os grandes grupos não compram mais terras. O Maggi diz que não derruba uma só árvore de suas terras e está certo. Eles agora arrendam a terra de pequenos e médios proprietários, que se encarregam de limpar a área para plantio”, denuncia Enrico Bernard, da organização Conservação Internacional. O Grupo Maggi rebate afirmando que não adquire terras desde 2002 e tem apenas uma fazenda arrendada. “Sofremos muitas críticas de gente que nem conhece nosso trabalho”, diz Ocimar Vilela, gerente de meio ambiente do Grupo Maggi.

Segundo Rosa de Sá, da WWF-Brasil, se fossem utilizadas melhores práticas agrícolas, como o menor uso de agrotóxico e a rotação de culturas, seria possível atender o crescimento da demanda pela soja até 2020 com uma área de plantio cinco vezes menor. “É necessário cobrar das grandes holdings de soja uma
maior consciência ambiental, para que isso se torne uma exigência na cadeia produtiva”, diz Bernard.