O consumo elevado de suplementos de vitaminas é um fenômeno mundial. No ano passado, os brasileiros compraram 316 milhões de comprimidos multivitamínicos, a grande maioria sem receita médica. Gastaram cerca de R$ 237 milhões, segundo o IMS Health (instituto de pesquisa de mercado da indústria farmacêutica). Na Inglaterra, a mania de vitaminas rende aos fabricantes, por ano, cerca de 300 milhões de libras, o equivalente a R$ 1,3 bilhão.

No entanto, a quantidade de pílulas consumidas é proporcional ao volume de dúvidas sobre sua utilidade na vida de pessoas saudáveis. Diversos centros de pesquisa começam a apresentar resultados de estudos sugerindo que o uso indiscriminado de vitaminas pode fazer mais mal do que bem. Recentemente, especialistas ligados ao FDA, agência americana que regulamenta medicamentos, divulgaram suas preocupações com o consumo exagerado da vitamina A (conhecida como retinol). Ao contrário da vitamina C, cujo excedente é eliminado pelo organismo, a vitamina A fica armazenada no fígado, bem como as vitaminas D e K. De acordo com a agência, o excesso do tipo A aumentaria as chances de fraturas nos ossos. Por isso, a recomendação é para que mulheres após a menopausa, quando aumenta o risco de enfraquecimento ósseo, não ultrapassem o consumo de 1,5 mg por dia (suprida por um bife de fígado ou por dois copos de leite, por exemplo). Já se sabia que as megadoses de vitamina A por um período longo causam lesões no fígado, problemas neurológicos e hemorragias digestivas em crianças.

Ultrapassar as doses recomendadas de vitaminas não é difícil para a parcela da população que se alimenta bem. “Se a pessoa segue uma dieta variada e, ao mesmo tempo, compra suplementos para fortalecer o organismo, corre o risco de ingerir vitaminas em excesso. Isso acontece cada vez mais porque existe muito marketing da indústria para convencer as pessoas de que elas precisam de vitaminas”, afirma o médico Luiz Erlon Araújo Rodrigues, da Universidade Federal da Bahia. Crítico severo do uso de vitaminas a granel, ele reuniu suas conclusões após 30 anos de estudo sobre essas substâncias no livro Vitaminas, verdades e mitos, publicado às próprias custas, em abril. Segundo o médico, o uso de suplementos por mais de 15 dias já pode provocar reações adversas.

Entre os médicos, há muitas controvérsias. Alguns apostam no poder dos suplementos. “As vitaminas são excelentes aliadas da saúde, mas não servem para tudo. Por exemplo, nem sempre a origem do cansaço é carência desses nutrientes. Antes de indicar, o médico precisa diagnosticar as causas”, diz a médica Dina Kaufman, de São Paulo. Um dos critérios da médica para recomendar suplementos é o estilo de vida dos pacientes. “Quem vive uma rotina estressante ou passa por crises aumenta a produção de radicais livres, moléculas que prejudicam o bom funcionamento celular. Nesses casos, a suplementação de vitaminas é necessária porque eleva a capacidade do corpo de se defender dessas substâncias”, explica. Outro ponto polêmico é a recomendação de vitaminas para pessoas com mais de 50 anos. Será que deglutir diariamente uma coleção de comprimidos é indispensável para uma vida longa e feliz? Na opinião do geriatra Fábio Nasri, de São Paulo, é mais um mito que precisa ser desfeito. “Se a dieta é balanceada, não há motivo para tomar suplementos. Só se beneficiam aqueles que têm alguma carência ou estão em situação diferenciada, como um pós-operatório”, acredita Nasri. A questão é que nem todos mantêm a dieta como manda o figurino. “Desconfio que apenas uma pequena parte da população tenha uma dieta adequada. Se a alimentação for muito irregular e a pessoa quiser tomar suplementos, deve consultar um especialista. O que não pode é comprar um pote e tomar continuamente”, diz a professora Gláucia Pastore, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos.