i93469.jpg

Há algo diferente nas praias brasileiras. Os tons de rosa, hibiscos havaianos, personagens como Hello Kitty, meninas superpoderosas, fadas e anjos estão mudando a cara das águas agitadas de lugares como Fernando de Noronha (PE), Saquarema (RJ), Maresias (SP), Tombo (SP) e Garopaba (SC) – palco dos circuitos mais importantes de surfe do Brasil. Nesses locais, as meninas com suas pranchas coloridas e femininas estão deixando sua marca em um território que antes era exclusivo dos rapazes.

As escolas de surfe são um bom termômetro da febre do momento. "Atualmente, 70% dos meus alunos são mulheres", conta Evelyne Galo, professora há 14 anos da Escola Jerônimo Telles, na praia carioca do Recreio, onde cerca de 60 meninas vão diariamente aprender desde o equilíbrio na prancha até as manobras mais ousadas. A invasão feminina trouxe inovações. "Por causa delas, estamos mudando até o material que usamos para ensinar", conta Evelyne, que precisou trocar toda a vestimenta utilizada em aula. O preto foi substituído pelo rosa e as pranchas ganharam novos desenhos para agradá-las.

Ruy Nepomuceno, proprietário da marca Nami, enxergou nas pranchas customizadas um novo filão e montou um site exclusivo para elas. "Descobri nisso uma forma de lucrar", diz ele. Na internet, a surfista preenche uma ficha com seu peso, altura, estilo de surfe e tipo de prancha favorita. Depois, em um menu, ela escolhe os desenhos e as cores que serão pintadas. Cada prancha personalizada custa em média R$ 1.000.

"Os meninos não pagariam isso. Procuram um bom shaper (profissional que faz a prancha) e se preocupam apenas com a performance", afirma o professor William Antônio de Souza Pinto, o Tuff. Mais simples, as pranchas dos rapazes saem por R$ 700. Tuff dá aulas na praia da En seada, no Guarujá, e como 80% dos seus alunos são mulheres prepara- se para encomendar novas lycras e pranchas decoradas.

As meninas começaram a se aventurar no surfe no início da década – e eram pouquíssimas. Até então, elas iam para o mar com body boarding, prancha menor na qual a pessoa pega onda deitada. Há cerca de três anos, as mulheres passaram a frequentar as escolas de surfe e aí invadiram de vez a praia masculina. Hoje, o Brasil tem até uma campeã de ondas gigantes, a surfista Maya Gabeira, filha do deputado Fernando Gabeira.

i93471.jpg

i93472.jpg

Praticante de surfe há cinco anos e dona de três pranchas, Caroline Gabilan, 26 anos, acredita que a novela Três irmãs, da Rede Globo, também está ajudando a popularizar o esporte entre as mulheres. "O fato de a Carolina Dieckmann ter aprendido a surfar mostra que não é tão difícil", diz. "As pessoas sentem mais segurança." Os iniciantes começam nas longboards, que têm até três metros. Quem sobe nelas tem a sensação de estar em cima de um caiaque. Daí para encarar pranchas menores e fazer manobras mais ousadas é um pulo. "As meninas não estão ali só para posar. Elas estão atingindo alta performance", diz o renomado shaper Ricardo Martins.