12/12/2007 - 10:00
Por causa das denúncias sobre esquemas de corrupção no Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo (ICHC) feitas no livro Estação Clínicas, lançado há dois meses, o autor da obra, o ginecologista Waldemir Rezende, ex-diretor da unidade, tornou-se, na última semana, o principal alvo de uma sindicância aberta pelo hospital. A investigação sobre os fatos relatados por ele e as providências que tomou pode culminar com a sua demissão da instituição, a qual dirigiu entre 2002 e 2007.
O livro relata irregularidades como furtos, desvio de materiais e esquemas de superfaturamento em vários setores do maior complexo hospitalar da América Latina. Inaugurado em 1944, o ICHC tem 960 leitos e atende doenças graves e complicadas, sendo considerado um centro de referência. Uma das denúncias diz respeito a quatro indivíduos em cargo de alto escalão que recebiam duplamente: como funcionários e como pessoas jurídicas, por prestação de serviços. "Fiz o livro para relatar como é possível fechar os ralos por onde escoa o dinheiro público. Também escrevi para me resguardar e proteger minha vida", diz Rezende. "Se algo me acontecer, podem procurar um mandante. E se não houver fiscalização constante, tudo voltará a ser como antes", alerta.
A possibilidade de demissão mencionada na portaria publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo que instaura a investigação provocou desconforto. Nos bastidores, os partidários de Rezende comentam que a ameaça é uma forma de punir o ex-diretor por levar a público as mazelas do instituto. A briga promete ser grande: a situação deixou expostas fraturas graves no fluxo de informações estratégicas para o combate da corrupção na instituição. O superintendente do HC, José Manoel Teixeira, por exemplo, disse a dirigentes não ter sido informado dos fatos ocorridos no instituto, a ele subordinado, antes de virem à tona. Procurado por ISTOÉ, Teixeira não quis falar.
Segundo o médico Marcos Boulos, presidente do Conselho Deliberativo do HC, que reúne representantes das unidades do complexo e que aprovou a investigação, até agora a instância não tinha sido avisada dos fatos reunidos no livro. Rezende, por sua vez, diz que seguiu as regras. "Abri sindicâncias e as mandei para o núcleo de direito jurídico, vinculado à superintendência. Também mantive o superintendente, José Manoel, informado", garante.
A investigação deverá ser concluída em 60 dias. Protagonista de uma gestão classificada como correta pelo próprio Boulos, Rezende mandou instalar 7 km de fibras ópticas e 129 câmeras no instituto para evitar roubos. "A sindicância avaliará os fatos e de que modo o ex-diretor lidou com eles. Ele tinha autoridade para tomar as medidas cabíveis. Se ficar provado que tinha razão, será inocentado", afirma Boulos.