01/06/2005 - 10:00
A condenação do traficante Elias Maluco a 28 anos e meio de prisão, na madrugada da quarta-feira 25, foi tratada como um simbólico passo no combate a um dos males que tanto atormentam nossa gente: a impunidade. A quase certeza de que não haverá punição àqueles que transgridem é, sem dúvida, fator de estímulo a ações criminosas. Certamente é por essa razão que o Brasil está cheio de “cidadãos acima das leis”. O próprio Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes, instantes depois de ouvir a sentença judicial, não hesitou em fazer um gesto obsceno aos cinegrafistas e deixou o tribunal de cabeça erguida. É positivo, portanto, que a pena imposta ao traficante seja olhada como um símbolo. Não podemos, porém, nos iludir. Ainda falta muito para que o País se livre dos acima das leis.
A reportagem de Ines Garçoni, que se inicia na pág. 46 desta edição, mostra que, no Brasil, a cada 15 segundos uma mulher é agredida dentro de sua própria casa. Ao contrário de Tim Lopes, são vítimas anônimas. Seus agressores, no entanto, são movidos pela mesma certeza da impunidade que impulsionou o surgimento de um Elias Maluco. “Pode ir me denunciar. Pago uma cesta básica e continuo batendo”, disse o ex-marido de Luciana, personagem da reportagem de Ines, que chegou a fazer oito denúncias contra o homem que a agredia quase diariamente. Com a cabeça e o supercílio abertos e o braço quebrado, Luciana ainda se apavora toda vez que o ex-marido bate em sua porta. E isso ele só consegue fazer porque está do lado de fora da cadeia, impune.
Já que o exemplo deve vir de cima, nunca é demais lembrar a impunidade que favorece aqueles que detêm poderes além da força física, como o político e o econômico, por exemplo. São os que não agridem fisicamente, mas fazem o País sangrar. Eles também devem ser punidos.