01/06/2005 - 10:00
Considerada talvez a melhor obra escrita pelo autor argentino Manuel Puig, The Buenos Aires affair (José Olympio Editora, 256 págs., R$ 40) é relançada no mercado brasileiro e confirma o papel do escritor como um dos mais impiedosos observadores da sociedade argentina na década de 1970. Naqueles anos em que era obrigatório um autor latino-americano se dedicar à literatura obviamente engajada, Puig criou romances ferinos nos quais a política muitas vezes ficava em aparente segundo plano, mas em que o retrato das mazelas hipócritas da sociedade que se beneficiava das ditaduras de plantão era exposto impiedosamente. A sexualidade escondida e, em causa própria, a homossexualidade eram bandeiras escandalosamente desfraldadas por Puig, para horror da tradicional família portenha, seu alvo favorito. Em The Buenos Aires affair, Puig relata a desvairada vida de uma jovem artista plástica viciada em drogas, a improvável Gladys Hebe D’Onofrio, sua mãe neurastênica e o jornalista Leopoldo Druscovich, que tem no passado uma confusa história de homossexualismo, violência e mortes não resolvidas. Esses personagens se entrelaçam no decorrer da trama, introduzida por pequenos trechos de filmes clássicos do cinema noir, até o desfecho tão surpreendente quanto previsível. Coisas de Manuel Puig.