O pânico se abateu na comunidade científica. Em dossiê publicado na semana passada pela revista Nature, pesquisadores são categóricos em afirmar que uma nova pandemia (epidemia generalizada e intercontinental) de gripe poderá afetar 20% da população e causar a morte de pelo menos oito milhões de pessoas nos próximos anos. O vírus Influenza, responsável pela gripe, sofre alterações de um ano para outro e pode causar uma pandemia quando as mutações são intensas o bastante para que ninguém permaneça imune. No momento, a atenção recai sobre três diferentes formas do Influenza que, antes, só eram encontradas em animais. A principal delas, a H5N1, fez suas primeiras vítimas humanas em 1997 e já matou mais de 80 pessoas desde 2003 em oito países da Ásia. Somente este ano, foram mais de 50 vítimas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A forma de transmissão do vírus – o contato com as fezes de aves contaminadas – rendeu-lhe o apelido de gripe aviária. Quem não freqüenta granjas e só manuseia frangos congelados deveria dormir tranqüilo. Mas não por muito tempo. “O recente aumento de casos no Vietnã fez com que especialistas levantassem a hipótese de que começam a ocorrer contágios de uma pessoa por outra”, explica a infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo. “O H5N1 pode dar início à pandemia, embora as mutações possam fazê-lo voltar à condição anterior, restrito a animais”, diz o virologista Celso Granato, do laboratório Fleury.

É possível que outro Influenza, humano ou animal, apresente mutações necessárias para dar início à catástrofe. O último surto mundial aconteceu há quase 40 anos, sinal de que há uma geração inteira mais fragilizada.
A OMS pede vigilância dos governos para que se formem planos de emergência.“É preciso um esforço internacional para criar uma vacina que possa ser manufaturada em bem menos tempo”, alerta o epidemiologista americano Michael Osterholm
em um dos artigos da Nature. Hoje, elas demoram meses para ser fabricadas. A espera pode ser fatal.