09/04/2010 - 21:00
INTIMIDADE
O oceanógrafo José Martins soma 1.190 mergulhos com golfinhos
Difícil encontrar criatura mais simpática que um golfinho-rotador. Sua boca estampa um sorriso permanente, como se estivesse sempre feliz. Com ou sem espectadores, ele faz saltos acrobáticos no ar. Aos olhos de quem está de fora, a vida desses animais pode parecer uma grande brincadeira. Não é bem assim. Golfinhos são o alimento preferido de tubarões. Por sua vez, o homem há muito os aprisiona para espetáculos em parques. Os motores barulhentos dos barcos importunam seu descanso. Como todo animal que vive livre na natureza, a sobrevivência é uma conquista diária. Não é de estranhar que as acrobacias, marca registrada da espécie, sirvam para a sua comunicação. Quando cai na água depois de um salto, o animal gera uma turbulência e um padrão de bolhas de ar que carregam mensagens específicas, que vão desde aumentar a velocidade de deslocamento até reunir o grupo. Quando os machos acompanham um barco, por exemplo, não estão se exibindo, e sim protegendo fêmeas e filhotes (entenda o significado dos movimentos no quadro a baixo). O arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco, é um dos poucos lugares no mundo que reúnem condições ideais para o descanso desses mamíferos.
Eles chegam ao conjunto de ilhas no meio do Atlântico com os primeiros raios de sol, depois de passar a noite se alimentando. Emergem a cada três minutos, respiram por 30 segundos, e então retornam ao repouso. Informações tão detalhadas só existem graças ao trabalho do oceanógrafo José Martins. Ele é o idealizador do Projeto Golfinho- Rotador, que completou 20 anos em março. Doutor em oceanografia, Martins publicou 14 trabalhos científicos sobre o cetáceo. Suas pesquisas são fruto de 1.190 mergulhos. Em sua fase atual, o projeto é coordenado pelo Centro de Mamíferos Aquáticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente. Desde 2001, tem patrocínio da Petrobras. O turismo, que atrai 90 mil visitantes por ano, é uma ameaça constante a esses cetáceos. O barulho do motor dos barcos alcança a mesma frequência que eles usam para se comunicar. “Vamos restringir ainda mais a navegação no arquipélago, assim podemos verificar se os dois fatos estão interligados”, afirma Martins. Sem golfinhos, Noronha não seria a mesma.