25/05/2005 - 10:00
Fórmulas, fórmulas, fórmulas. As mesas dos executivos da combalida indústria fonográfica estão cheias delas. A mais óbvia é a das compilações, já que a maioria dos artistas não é dona de seu próprio catálogo. Por dispensar as intermináveis horas de estúdio, turnês e shows, confinando cantores e bandas nos ambientes seguros dos palcos televisivos, ideais para a gravação de DVDs, os formatos “Ao vivo” e “Acústico” também viraram febre. A economia chegou ao refinamento com o “Banquinho e violão”, que reúne um elenco famoso gravando sucessos conhecidos. Não se trata de um cover, ou seja, mera imitação: o que vale agora é a interpretação. Caso da série Um barzinho e um violão, da Universal Music, três CDs duplos e o especial Jovem guarda, do canal Multishow, lançado também em DVD.
Somados, os itens já venderam meio milhão de cópias trazendo astros como Caetano Veloso, Chitãozinho & Xororó, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Fernanda Takai e um grande etc. Como o filão é grande, por que não apostar em novos nomes? Isso já aconteceu. O carioca Alex Cohen lota seus shows cantando clássicos da MPB e a paulistana Iara Negrete arrisca o mercado internacional. Mas, se o assunto é música pop estrangeira, a carioca Danni Carlos e o mineiro Emmerson Nogueira reinam absolutos.
Pernas – Daniela Carlos de Araújo, 29 anos, cabelos pintados de loiro, 1,70 m e um par de longas pernas invariavelmente compreendido entre botas e minissaias, passou dez anos cantando em bares e viajou pela Europa, onde se apresentou – e dormiu – na rua. Mesmo assim, encontrou tempo para contabilizar dois casamentos, desfeitos, um curso de atriz e três faculdades, incompletas. A partir de 1999 percorreu diversas gravadoras chegando a deixar composições na editora da BMG – hoje Sony BMG – , para serem gravadas “pelo primeiro que quisesse”. Em 2003 sua sorte virou. Simultaneamente se viu escalada para um pequeno papel na novela Agora é que são elas, da Rede Globo, e convocada para um “projeto” da BMG.
Para entender o que significava esse projeto é preciso retroceder até 2000, quando o mineiro Emmerson Nogueira, um garoto que, como tantos outros mineiros ou não, amava os Beatles e os Rolling Stones, viu a luz. Nascido em São João Nepomuceno, o rapaz fez o percurso Juiz de Fora, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, cantando em barzinhos, escolas e festivais, compondo suas musiquinhas e guardando na gaveta. Desde 1997 Emmerson visitava a gravadora que só o contrataria, como compositor, três anos mais tarde. Com o dinheiro do advanced, adiantamento sobre futuros direitos autorais, o músico montou um home-studio e, de brincadeira, gravou uma fita de sucessos de rádio que aterrissou no Marketing Especial da Sony, hoje fundida à BMG. Os executivos do setor, tarimbados em direito autoral por causa das compilações, enxergaram “um projeto” naquela fita, posteriormente formatado com o próprio Emmerson. Em 2001 saiu Versão acústica e a onda estava criada.
Uma onda que Danni Carlos não havia percebido, tanto é que pediu que seu nome não fosse colocado na capa de Rock’n’road, de 2003, produzido e executado por Rick Ferreira, guitarrista respeitado no meio musical e pelo próprio Emmerson. Depois da estréia no Canecão (“um sonho!”, diz ela), com direito a colocar no palco seu Karmann Ghia 1970, conversível amarelo, e convidar o “Tremendão” Erasmo Carlos para um dueto, a loira percebeu que o negócio era sério. E colocou o nominho na capa. Na seqüência vieram com a mesma força Rock’n’road again e o recente Rock’n’road all night, que lança neste sábado 21, no Via Funchal paulistano, lotando pela terceira vez os três mil lugares da casa que servirá de cenário pra seu primeiro DVD. Porque hoje Danni se dá ao luxo de levantar do banquinho, fazer malabarismo em uma barra de strip e desfilar com guitarras fashion como a Telecaster “pink” e a Strato “pois” (de bolinhas), suas favoritas. No palco Danni é só alegria e, rindo, já vendeu mais de 250 mil cópias de seus discos.
Empunhando seus violões, mas, como Danni, apoiado numa banda, Emmerson Nogueira lota habitualmente o circuito “Hall” – Credicard, em São Paulo, Claro, no Rio de Janeiro, Americel, em Brasília, e Marista, em Belo Horizonte – e já ultrapassou um milhão de discos vendidos. Sua discografia é composta por Versão acústica 1, 2 e 3, uma caixa com os três CDs e o duplo Ao vivo. O mais recente é Beatles, arrepia os cabelos do mais calvo dos beatlemaníacos com versões honestas para temas batidos como Help!, A hard day’s night, Nowhere man ou Blackbird. Segundo o artista o que ele e Danni fazem em nada difere de Rod Stewart cantando standards ou Caetano Veloso e suas recriações – que considera belíssimas – de Foreign sound. “O duro é abusar da obra, fazer por dinheiro”, diz Emmerson, para quem o formato “banquinho e violão” possui o poder de dar vez a desconhecidos como ele. Como um dia foi.