Afro X ou Cristian de Souza Augusto, 31 anos, negro nascido pobre no ABC paulista, sofreu preconceito, ficou desempregado e foi condenado por assalto à mão armada. Passou sete anos no Complexo Penitenciário do Carandiru, hoje desativado. Lá descobriu o rap. Mas a fama nacional veio por conta do casamento com a cantora Symoni. Há dois anos em liberdade condicional, ele agita a cena rap brasileira. Acaba de gravar um videoclipe e um CD duplo e vai lançar um documentário sobre sua carreira, que nasceu nos corredores do cárcere, onde, aliás, teve várias namoradas e quatro filhos: Ryan, quatro anos, Aysha, dois (com Symoni), Hemellyn, sete, e outro de quatro anos que ele ainda não conhece.

ISTOÉ – Do que falam suas letras?
Afro X –
De tudo, até de amor. Não é porque sou rapper que não posso falar de amor. Faço parte da era do ficar, mas só depois entendi que inventaram isso para encobrir patifarias. É uma justificativa para você sair com a menina hoje, transar com ela e depois nem precisar ligar, já que só ficou.

ISTOÉ – Como foi viver no Carandiru?
Afro X –
Quando cheguei no Carandiru, o carcereiro falou: “Aqui a gente não tem vaga, acha uma cela para você morar.” Saí da carceragem, subi as escadas e, quando estava no terceiro andar, vinha um cara arrastando um cadáver todo esfacelado. Espirrava um monte de sangue. Pensei: “Será que saio vivo daqui?”

ISTOÉ – E você fazia música lá?
Afro X –
A gente assumiu o rap mesmo diante das piadas. Conseguimos autorização para sair, gravar e fazer shows. A gente ia de camburão, escoltados. E os policiais ficavam em volta do palco.

ISTOÉ – Você tentou fugir?
Afro X –
Uma vez eu fugi e fiquei no castigo durante seis meses. Saí por um túnel subterrâneo e me pegaram.

ISTOÉ – Como era sua vida antes de ser preso?
Afro X –
Eu terminei o segundo grau, sem repetir nenhuma série. Fiz um curso
de corretor de imóveis e comecei a procurar emprego. Os caras falavam que eu
não me enquadrava no perfil. Capacidade eu tinha, fiz um curso no Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci), de São Paulo. Vi então que o perfil
era só baseado na cor da pele.

ISTOÉ – Como foi sua relação com a Symoni?
Afro X –
Independentemente de a gente estar separado há seis meses, vejo
meus filhos pelo menos três dias da semana. Durmo lá na casa dela. O mundo
em que eles vivem, em Alphaville (bairro de classe média alta de São Paulo), é
outro Brasil. Mas, ao contrário do que poderia imaginar, encontrei pessoas lá
de bom coração e fãs.

ISTOÉ – Você tem quatro filhos e todos nasceram enquanto você estava na cadeia. Como você arrumava namorada lá?
Afro X –
Eu escrevia cartas, à moda antiga. Escrevia boas missivas, mandava
flores. Mas para elas conseguirem suportar não era fácil. Era humilhação na
visita. Depois ficavam naquela fila, tudo para entrar no caos. Elas não agüentavam
e eu também não podia ficar sofrendo. Então arrumava outra namorada. Eram visitantes que apareciam lá.