25/05/2005 - 10:00
Quando os casos de gripe começam a se
 alastrar – a transmissão aumenta nos meses frios –,                uma das diversões nacionais é dar nome à temporada.                A de 2005 foi batizada de gripe Severino porque leva a família                inteira. É uma menção ao presidente da Câmara                dos Deputados, Severino Cavalcanti, que nomeou parentes para cargos                públicos. O bom humor ameniza o mal-estar causado pelos dois                problemas, o fisiologismo e a gripe. Mas, na opinião dos                especialistas, falta informação para lidar com a doença.                “É um erro acreditar que uma pessoa pode pegar mais                de uma gripe por ano”, afirma o pneumologista Elie Fiss, do                Hospital Oswaldo Cruz (SP).
O que o médico quer dizer é que, uma vez contaminado pelo vírus Influenza, o responsável pela gripe, o indivíduo cria anticorpos e fica imune ao Influenza predominante no período. Além disso, nem todos os espirros têm a mesma origem. “Há sete vírus e várias bactérias que provocam sintomas semelhantes aos da gripe. Isso confunde as pessoas”, explica o virologista Celso Granato, da Universidade Federal de São Paulo e do Laboratório Fleury. O resfriado, que pode ser causado pelo rinovírus ou adenovírus, ataca nariz e garganta. O Influenza afeta mais o pulmão. “Ele pode dar febre mais alta, um grande mal-estar, dor muscular e abrir espaço para complicações como a pneumonia”, explica o clínico-geral Leopoldo Luiz Neto, da Universidade de Brasília.
O tabagismo e as doenças respiratórias deixam as pessoas mais vulneráveis ao Influenza. “Em qualquer idade, quem tem asma, bronquite ou problemas cardiovasculares deve se vacinar”, diz a pneumologista Isabella Scatolin, de Porto Alegre. A enfermeira Daniela de Souza, 29 anos, aderiu à vacinação por motivos profissionais. “Tenho contato com muita gente. Mas, graças à vacina, há dois anos não tenho gripe”, conta. A mutação rápida dos vírus também mina as defesas. “O Influenza tem oito pedaços que se recombinam. Quanto mais ele muda, menos resistência teremos”, explica Granato. As variações estão contempladas na vacina, que é fabricada com os três tipos de Influenza mais incidentes no ano coletados por uma rede mundial de laboratórios. Tem eficácia superior a 85% e ameniza sintomas. Custa em média R$ 45.
Estratégias – A ameaça de                um surto mundial
 de grandes proporções é real. “Dos 16                tipos de Influenza, apenas três atingiam humanos. Nos
 últimos cinco anos, três tipos antes vistos
 apenas em animais infectaram indivíduos. E pelo menos um                deles está se mostrando transmissível entre pessoas”,                explica Granato. O assunto está no centro das atenções                da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do                Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação                (FAO/ONU), que já lançaram um forte alerta sobre risco                de uma pandemia. Vários países traçaram estratégias                de defesa. O Canadá, por exemplo, tem estoques de remédios                antivirais para serem tomados nas primeiras 48 horas após                a infecção. O Brasil também se prepara. Além                de planos para melhorar as condições de biossegurança                de hospitais, o País estuda a compra de medicamentos e pretende                inaugurar no ano que vem uma fábrica de vacinas antigripais.                “Terá capacidade de produzir 20 milhões de doses                anuais (com três vírus) ou 60 milhões de vacinas                contra um vírus único”, explica Expedito Luna,                do Ministério da Saúde. “De fato, além                da vacina, é necessário armazenar os antivirais”,                afirma Elie Fiss.