A cidade de Diadema trocou a graxa pelo creminho. Conhecida por fornecer assessórios para a indústria metalúrgica do ABC paulista, Diadema se apegou à estética assim que o processo de modernização começou a despejar empregados nas ruas e a fechar fábricas. À medida que eram desocupados, galpões impregnados de fuligem passaram a ganhar cores e aromas. Situada a apenas 17 quilômetros de São Paulo, ela é hoje a cidade brasileira que concentra o maior número de empresas de cosméticos. São 100 fábricas dedicadas à beleza, 30 delas fornecedoras de matéria-prima. De suas linhas de montagem saem, todo mês, 36 milhões de unidades de batons, brilhos, blushes, rímeis, sombras, esmaltes, sabonetes, esponjas, xampus, loções e cremes de todo o tipo. Do hidratante popular ao rejuvenecedor facial mais sofisticado.

Para mover essa engrenagem existem 11 mil pessoas em atividade, oito mil em empregos diretos. A principal responsável pela efervescência, que já responde por 12% da produção nacional do setor, é a administração municipal, que criou no antigo reduto metalúrgico o Pólo Brasileiro de Cosmética. A iniciativa, cujos primeiros passos foram dados em 2001, acelerou a capacidade de produção das indústrias de cosméticos já instaladas na região, ajudou a implantação de dezenas de outros negócios e não pára de atrair investimentos. Nenhum incentivo fiscal é dado às indústrias. Em compensação, o poder público investe na busca de parcerias e formação de mão-de-obra.

“O segredo é a ação compartilhada, que engloba compras conjuntas, e ações para atrair compradores”, esclarece o vice-prefeito, Joel Fonseca, um dos grandes incentivadores do pólo. Convidado pela Associação Brasileira da Indústria de Cosméticos, Fonseca acaba de desembarcar de Dubai, nos Emirados Árabes, onde produtos do pólo foram apresentados a comerciantes de todo o Oriente Médio. “Queremos inserir Diadema no roteiro das missões estrangeiras.” Ações como essa rendem dividendos aos grandes, mas também aos médios e pequenos empresários da região.

Com apenas 12 empregados,
metade deles na produção, o dono
da Toirê, Milton Marques, não precisou se deslocar para a feira de San Diego, nos Estados Unidos, para que uma bucha de sua empresa saísse da exposição americana como um dos destaques em criatividade. “Além disso, aqui tem do fornecedor de matéria-prima à embalagem”, diz.
Não é à toa que grandes produtores implantaram filiais na cidade. Diadema também virou a meca de experientes profissionais do setor que decidiram abrir o próprio negócio, caso de Décio Castellani, da Armazém Botânico. Em atividade há dois anos, a Armazém Botânico já distribui suas colônias para todo o Brasil e acaba de lançar uma linha bebê.

O caminho foi aberto por pioneiras como a Valmari, que, em 1982, instalou-se em Diadema, após funcionar dois anos na capital paulista. Com 580 itens em seu leque de ofertas, a Valmari soma 104 lojas franqueadas no Brasil e três no Exterior. Na fábrica, em obras para duplicação até o final do ano, trabalham 88 pessoas, a maioria moradora das imediações. Contratada há oito meses, Meire Félix da Silva, 32 anos, conta que trabalhou seis anos na indústria metalúrgica antes de mudar de ramo. “Tinha calos nas mãos, agora estou com a pele sempre hidratada”, compara. “O crescimento dos cosméticos foi bom para todo mundo.”

Lei seca – O boom foi positivo até para quem investiu em instalações industriais sem pensar em cosméticos. Donos da Lipson, uma gigante de terceirização no mundo da estética, Regina e Alessio Rodrigues montaram sua fábrica num prédio alugado, construído para abrigar uma metalúrgica. Com mais de cinco mil fórmulas registradas, eles contratam 750 profissionais. Chegam a produzir nove milhões de unidades ao mês, incluindo amostras, para clientes dos mais diversos portes. Entre eles está a linha de cosméticos Ligia Kogos, há dois anos nas prateleiras mais requintadas. Nada disso, no entanto, seria possível se Diadema continuasse exibindo o quadro de violência urbana que provocava calafrios em meados dos anos 90. Junto com as ações para atrair investidores, o poder público também investiu na formação de jovens e em segurança, adotando inclusive uma lei seca, que estabeleceu o fechamento dos bares depois das 23 horas. Deu no que deu.

Em alta: sétimo produtor mundial de cosméticos, o Brasil exportou US$ 335 milhões em 2004, 36% a mais do que no ano anterior