FOTOS: DIVULGAÇÃOAngelina Jolie nua, coberta apenas por uma tinta dourada e saindo da água como uma Bond girl – essa imagem que freqüenta os sonhos de qualquer marmanjo existe e pode ser vista nos cinemas de todo o País a partir da sexta-feira 30 no filme A lenda de Beowulf (Beowulf, EUA, 2007). O banho de água fria é que o novo trabalho de Robert Zemeckis não é um filme de live action, como Hollywood chama as produções com atores de carne e osso. Trata-se do mais bem realizado longa-metragem feito segundo a técnica apelidada de motion capture, hoje a mais moderna no campo da animação digital. Ou seja: seus personagens têm o rosto, a voz e os gestos de atores reais, mas seus corpos são totalmente criados através de programas de computação gráfica. Ainda assim, as pessoas correram para admirar Angelina Jolie como só Brad Pitt conhece, emplacando o filme como o mais visto no final da semana passada nos EUA, com uma renda de US$ 28 milhões.

Na época grávida de três meses de Shiloh, Angelina só atuou nas filmagens durante dois dias e meio. Não imaginando que o filme pudesse expôla tanto, a própria atriz foi pega de surpresa ao se ver nas telas. "Teve certos momentos em que eu me senti realmente envergonhada. Liguei para casa só para explicar que o suposto filme engraçado que eu estava fazendo e que achava ser uma animação era, na verdade, bem diferente do que eu esperava", disse ela à revista americana People. Angelina acrescentou que não vai deixar que seus quatro filhos a vejam no cinema no inesperado "traje de gala". Além do avatar da mais desejada atriz de Hollywood, A lenda de Beowulf tem mais atrativos. O filme foi concebido para ser exibido nos cinemas IMAX 3D – a última palavra em exibição de três dimensões. Críticas americanas descrevem a festa para os olhos que é acompanhar a ação com toda sorte de objetos avançando em direção à platéia, espadas e lanças incluídas. No Brasil, essa experiência vai poder ser repetida (não com a mesma intensidade) no circuito Cinemark, que tem salas 3D em São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.

A história repleta de lutas no estilo inaugurado por 300 passa-se na Dinamarca durante o século VIII. Angelina interpreta, acreditem, a mãe de um monstro horroroso, o gigante deformado e coberto por chagas chamado Grespen, moldado a partir do corpo de Crispin Glover. Ela vive numa caverna dominada por uma lagoa azul e é de suas águas que surge como Ursula Andress no filme 007 contra Dr. No. Como tem a capacidade de se transformar em qualquer coisa, aparece para o herói da história, o guerreiro Beowulf, como a tal entidade dourada com pés salto agulha e trança tão longa que ondula feito uma cauda de demônio. Seu objetivo é seduzi-lo e assim vingar a morte do filho, eliminado justamente pelo herói. Ulisses resistiu às sereias, mas Beowulf, é claro, não consegue se livrar do sortilégio da vilã. Esse descuido vai lhe custar muitas lutas futuras, inclusive com um imenso dragão.

Angelina assustou-se ao se ver na tela e não pretende levar seus filhos para assistir ao filme, que é o mais visto dos EUA

Criado a partir da atuação do gordinho Ray Winstone, o guerreiro digitalizado melhorou a aparência do ator inglês de 50 anos. Ele aparece com dois metros de altura, barriga de tanquinho e cabelos dourados na melhor tradição nórdica. É de um reino gelado da Suécia, o chamado Gotaland, que ele parte em direção aos domínios do rei Hrothgar, que tem a voz e as feições de Anthony Hopkins. Sua missão é eliminar o malévolo (mas choramingão) Grendel, que anda aterrorizando a corte de Hrothgar. Hopkins, 70 anos, adorou a experiência no cinema digital. Ele conta que não vestiu nenhuma armadura, mas uma malha parecida com a de um mergulhador à qual eram aplicadas pequenas contas feitas de material fotossensível semelhante ao de sinalização noturna de estradas. Diante de quase 100 câmeras, fazia as poses e os movimentos que Zemeckis pedia, tendo o corpo todo mapeado por computadores. O restante ficou a cargo dos geniais artistas do mouse.

EROTISMO Com o corpo coberto de tinta dourada, a personagem de Angelina sai das águas e seduz Beowulf, que queria matá-la

A mesma técnica já foi utilizada em O senhor dos anéis na criação do personagem Gollum, aquele ser pegajoso que se corrompeu por meio do mal. A diferença é que, no filme de Peter Jackson, a aparência do novo personagem não guardava qualquer semelhança com o ator, Andy Serkis. Essa é a novidade trazida ao cinema por Robert Zemeckis, que sempre flertou com a tecnologia em sua carreira – ele assina a direção de Forrest Gump, De volta para o futuro e Uma cilada para Roger Rabbit. Zemeckis já havia utilizado esse método no filme O expresso polar, de 2004, conto de Natal que tinha um maquinista de trem moldado em Tom Hanks. Mas o movimento dos olhos dos atores deixava a desejar – a sensação era a de que se estava diante de mortos-vivos. Em A lenda de Beowulf o problema foi solucionado, pois os tais sensores fotossensíveis foram também colocados na órbita ocular dos atores. A propósito: o olhar digitalizado de Angelina Jolie continua capaz de derreter geleiras.