ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

DEVASSAPF apreende computadores de diretores de empresas ligadas à Cisco

Na quinta feira 22, a Justiça Federal aceitou denúncia contra 16 investigados na Operação Persona, ação deflagrada pela PF, Receita e Ministério Público Federal para apurar corrupção, importação fraudulenta e sonegação fiscal de produtos de informática. Os federais trabalham em duas frentes: na primeira, eles apuram o envolvimento da Cisco, uma das maiores corporações do mundo em redes de computadores para a internet, em supostas licitações viciadas. Na outra ponta, investiga-se o suposto envolvimento do PT na maracutaia. Para a polícia, o partido teria sido beneficiado com doações, até o momento, de meio milhão de reais, para em troca gerar facilidades em concorrências públicas. O PT admitiu ter recebido os R$ 500 mil, em agosto e setembro últimos, doados por duas empresas baia-nas – ABC Industrial e a Nacional Distribuidora de Eletrônicos –, mas nega as facilidades. “O PT não tem obrigação nem possibilidade de aferir se a empresa é suspeita de alguma irregularidade fiscal ou de outra natureza, tampouco se está sendo investigada pelos órgãos públicos”, disse Paulo Ferreira, secretário nacional de finanças e planejamento do PT. O partido diz que as doações foram legais.

De fato, não é crime arrecadar dinheiro, mas a defesa petista não convenceu a PF, que encaminhou um pedido à Justiça Federal para poder escarafunchar a contabilidade do partido. Ao que tudo indica, a solicitação dos investigadores não é à toa. Os policiais trabalham com a certeza de que pelo menos uma das empresas doadoras é laranja. A Nacional Distribuidora, dizem os policiais, aberta em maio de 2006, tem o capital social de R$ 100 mil e doou R$ 250 mil ao partido. Mas não é só isso. O suposto controlador da empresa, Gerson Orestes Soares Oliveira, que deteria 95% das ações da empresa, obteve rendimentos, em todo o ano de 2006, de R$ 17.493,32. Seu outro sócio, seu filho, nem sequer sacou um mísero centavo. A PF quer saber como alguém que tem retiradas de pouco mais de R$ 17 mil num ano poderia doar R$ 250 mil. A primeira hipótese que os investigadores trabalham é que a Nacional seja mais uma das 14 empresas laranjas supostamente constituídas pela Cisco para faturar alto no esquema.

Os investigadores suspeitam que o dinheiro que jorrou nos cofres do PT foi creditado por duas dessas empresas. Em troca, a multinacional receberia facilidades numa licitação da Caixa Econômica Federal (CEF). A PF, segundo o jornal Folha de S.Paulo, diz que a CEF teria alterado o edital do pregão eletrônico 157/2006 para que a Damovo, uma das empresas que distribuem produtos da Cisco, ganhasse uma licitação de R$ 9 milhões. A CEF e o PT negam as facilidades.

O esquema funcionava de maneira engenhosa. Para se dar bem no atraente mercado de informática brasileiro – US$ 15 bilhões em 2006 –, a Cisco usava a Mude, sua maior distribuidora, que por sua vez contava com a logística das outras empresas. A União e as estatais respondem por 40% das compras de software importado. A Cisco, por outro lado, possui 70% do mercado de integrador de sistemas – rede de comunicação de dados – do Brasil. Conforme as investigações da PF, órgãos do governo federal empurram para “subsidiárias” da Cisco Systems do Brasil a compra de equipamentos.

As provas mais robustas do suposto esquema estão em poder da PF. São interceptações de conversas telefônicas e documentos apreendidos pelos investigadores na casa dos acusados. Em uma dessas apreensões, a PF pescou os dois recibos de doação ao PT. A documentação da possível ligação entre o PT e o esquema criminoso estava com Marcelo Naoki Ikeda, diretor de vendas da Mude, a empresa que, segundo a PF, seria a cabeça do esquema criminoso. O PT admitiu que, além dos R$ 250 mil citados na denúncia, recebeu R$ 6.223.001 de 16 pessoas jurídicas entre fevereiro e setembro deste ano.