06/06/2007 - 10:00
DISPUTA Zulmar estava em choque com o setor de inteligência da PF
A Operação Octopus, cujos principais alvos ISTOÉ trouxe à luz na semana passada, começou a causar seus primeiros estragos. Na terça-feira 30, a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, determinou o afastamento de ninguém menos que o segundo homem da hierarquia da Polícia Federal. Zulmar Pimentel, 56 anos, 32 de polícia. Ele ocupa o posto de diretorexecutivo da PF; acima dele está somente o diretor-geral, Paulo Lacerda. Zulmar foi fisgado por um relatório da própria PF.
O documento o acusa de ter alertado o então superintendente da PF no Ceará, João Batista Santana, de que ele estava sendo investigado. Batista mantinha conversas heterodoxas com Clemilton Andrade Rezende, um dos integrantes do chamado G-8, grupo de oito empreiteiros de Salvador acusados de fraudar licitações para ganhar contratos junto a órgãos públicos. A seqüência de inconfidências atrapalhou o desenrolar da operação. Zulmar se defende. Diz que não fez nada de errado. "Eu estou perplexo com isso tudo", afirmou ele a ISTOÉ, jurando que não vazou nenhuma informação.
A decisão da ministra é extensiva a mais dois delegados federais. Um deles é Paulo Bezerra, atual secretário de Segurança Pública da Bahia. O outro é César Nunes, até a última semana chefe da superintendência baiana da PF. Nunes ganhou notoriedade depois de assumir o caso Waldomiro Diniz, o ex-assessor do Planalto filmado em 2002 pedindo dinheiro ao empresário da jogatina Carlinhos Cachoeira. Como superintendente, ele teria tentado atrapalhar o desenrolar da investigação contra os empreiteiros. O mesmo vale para Paulo Bezerra. Em suma, os três delegados são acusados de tentar minar o sucesso da Octopus.
O afastamento de Zulmar, em especial, mexe sensivelmente na sempre intrincada política interna da PF. Até agora, ele vinha sendo apontado como um dos mais fortes candidatos a suceder Paulo Lacerda. Como diretorexecutivo, Zulmar tinha amplos poderes. Nos últimos anos, comandou 240 operações especiais. O principal adversário de Zulmar na acirrada disputa pela vaga de Lacerda é o delegado gaúcho Renato Halfen da Porciúncula, chefe da também poderosa Diretoria de Inteligência, a DIP – justamente a que produziu os relatórios que deixaram Zulmar em apuros. Para Paulo Lacerda, o que há contra Zulmar é frágil e, se depender dele, o amigo volta ao posto.
Enquanto isso, a Operação Octopus segue adiante. A investigação da PF aponta como os dois braços mais fortes do esquema o próprio Clemilton Rezende e o empresário Marcelo Guimarães, ex-presidente do Esporte Clube Bahia e ex-deputado estadual. O grupo de empreiteiros sempre atuou em conjunto. As empresas disputavam as licitações entre si, mas no fundo seus donos eram os mesmos. Quando a investigação vazou, eles decidiram se dividir. Até hoje elas mantêm negócios em órgãos do governo estadual e prefeituras na Bahia.
CHEFÃO Clemilton Rezende liderava grupo que fraudava licitações na Bahia
Como ISTOÉ mostrou, o poderio do grupo começou nos governos de aliados do senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA). As ligações dos empreiteiros com o mundo da política sempre foram bem estreitas. Ao mesmo tempo que ganhavam licitações milionárias, contribuíam com doações para políticos carlistas. A era ACM acabou na Bahia, mas as empresas continuam presentes na máquina pública baiana.