18/05/2005 - 10:00
A eliminação da Copa do Brasil pelo Figueirense (SC), uma surra violenta e impiedosa de 5 a 1 do rival São Paulo, a demissão de Passarela. Engana-se quem acha que a lenha destinada a fazer arder o inferno astral do Corinthians nas últimas semanas veio apenas desses três fracassos. Em meio às trombadas no campo, a troca de ganchos e diretos entre o iraniano Kia Joorabchian, dono da Media Sports Investments (MSI), parceira do Corinthians, e o vice-presidente eleito do clube, Antonio Roque Citadini, contrário ao acordo, voltou com força total. ISTOÉ conversou com os dois e registrou os detalhes do combate verbal, que incluiu acusações de lavagem de dinheiro e até de preconceito contra homossexuais. Educado e simpático, Joorabchian falou por mais de uma hora. Mas as três perguntinhas que ficaram sem respostas – como foi ganho, de quem é e de onde vem o dinheiro da MSI – deixaram aberto o grande buraco de sempre.
ISTOÉ – O Ministério Público apresentou relatório com indícios de que o Corinthians é utilizado para lavar dinheiro. Citadini afirma que a MSI é “só uma caixa postal”. O que o sr. tem a dizer sobre isso?
Kia Joorabchian – São equívocos.
ISTOÉ – O sr. é sócio da MSI?
Kia – Tenho 23% da empresa. O dinheiro sai de um banco na Europa, vai para
outro nos EUA e, de lá, é remetido para o Banco Central brasileiro. Depois do câmbio, numa corretora, é depositado.
ISTOÉ – Quais bancos?
Kia – Não revelo. São de primeira linha.
ISTOÉ – São eles os investidores?
Kia – Não posso e não quero dizer que dinheiro é esse. Esses bancos
investigam a origem de tudo que recebem.
ISTOÉ – Se eles não encontraram nada, por que o sr. resiste em dar nomes?
Kia – Porque não nos interessa. Afirmo: cada dólar foi verificado pelo BC.
ISTOÉ – Muitos afirmam que a MSI não paga dívidas porque não consegue aprovar câmbios…
Kia – Mentira. Pagamos 60%. Os outros 40% são processos indefinidos.
Se confirmados, pagaremos.
ISTOÉ – Então, a MSI já fez câmbio de US$ 12 milhões, ou seja, de 60%?
Kia – Fizemos… Olhe, não vou dizer. Essas coisas interessam apenas a nós.
ISTOÉ – A MSI negocia na Argentina, em Portugal e no Leste Europeu porque
tem nesses lugares acesso ao dinheiro russo?
Kia – Mentira. Compramos o Marcelo Mattos. Oferecemos mais de US$ 10
milhões no Robinho, mas o Santos não aceitou. Oferecemos US$ 7 milhões
no Fred e o Cruzeiro rejeitou. Como vocês podem imaginar que a MSI pagaria
com dinheiro sujo esses US$ 17 milhões?
ISTOÉ – Tevez foi comprado por US$ 16 milhões pelo Corinthians, e não pela MSI. O valor anunciado foi de US$ 22,6 milhões. E os outros US$ 6,6 milhões?
Kia – O comprador pode ter um investidor. A Fifa e as leis aprovam. Fazemos
câmbio todos os dias no BC.
ISTOÉ – E os outros US$ 6,6 milhões?
Kia – De novo: não nos interessa falar sobre números agora na imprensa.
ISTOÉ – O sr. disse na Folha de S. Paulo que Citadini deve sair com Clodovil. Citadini disse a ISTOÉ: “Foi uma grosseria contra Clodovil e os homossexuais,
do sr. Kia e da Folha, que abriga dezenas de homossexuais em cada andar,
muitos deles meus amigos.”
Kia – (Após segundos de silêncio, com aparente espanto). Clodovil é homossexual? Não sabia. Citadini acha que foi por isso? Não foi. Disse porque ouvi a torcida gritar que Leão está igual a Clodovil, pelo cabelo branco. Respeito homossexuais e condeno preconceitos.
ISTOÉ – Tevez quer ir embora já?
Kia – Não. Pediu um técnico que goste de argentinos.
ISTOÉ – Leão foi convidado?
Kia – Pela MSI, não.
ISTOÉ – E o técnico dos seus sonhos?
Kia – Wenger (do Arsenal), Felipão, Mourinho (do Chelsea), Luxemburgo… Sabem liderar grupos. Exatamente por isso, estão ocupados e bem-pagos.
ISTOÉ – O sr. se considera playboy?
Kia – Como assim? Me relaciono apenas com minha namorada, trabalho muito e me divirto com os amigos.