Sob o peso de um endividamento de R$ 9,2 bilhões, a Varig tenta decolar mais uma vez. A sexta tentativa de reestruturação da empresa em 11 anos começou na segunda-feira 9, quando tomaram posse os novos integrantes do Conselho de Administração. A presidência do conselho é agora responsabilidade de David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Também do petróleo vieram dois colaboradores: Henrique Neves, ex-diretor da Shell Brasil e ex-presidente da Brasil Telecom, é o novo presidente executivo, e o empresário Omar Carneiro da Cunha, outro membro do conselho, também foi presidente da Shell no País. Ainda no conselho estão o ex-presidente do BNDES Eleazar de Carvalho Filho, o tenente-brigadeiro Sergio Ferolla, o embaixador Marcos Azambuja e o economista Sérgio de Almeida Bruni. O economista Gesner Oliveira, ex-Cade, e o engenheiro Harro Fouquet foram mantidos.

Confiança – “Queremos transmitir a confiança de que o controle acionário será transferido da Fundação Ruben Berta para investidores. A reestruturação da empresa seria um segundo passo”, planeja Zylbersztajn. Para alcançar esse objetivo, no entanto, há outros obstáculos além do balanço financeiro. Vários nomes que integram o conselho têm estreita ligação com a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, como o próprio Zylbersztajn – que foi genro de FHC – e Eleazar de Carvalho Filho, o que poderia ser entendido como disposição para o enfrentamento com o governo petista. “Não sei se é coincidência ou falta de sensibilidade política”, alfinetou Marcelo Ribeiro, especialista em aviação da consultoria Pentágono. O presidente do conselho da Varig rebate. “Isso é uma bobagem sem tamanho. Esse processo tem zero de ideologia e zero de política. Se o governo ajudar a salvar a Varig, o mérito será do governo”, diz Zylbersztajn.

O assunto foi tratado na reunião de mais de duas horas que os integrantes do conselho tiveram em Brasília com o vice-presidente José Alencar, na terça-feira
10. O presidente da Fundação Ruben Berta, Ernesto Zanata, disse a Alencar
que não é intenção dos conselheiros entrar em rota de confronto com o governo. A empresa recolhe diariamente R$ 1,3 milhão de tarifas à Infraero e paga entre
R$ 3 milhões e R$ 5 milhões de combustível à BR. No encontro, o vice-presidente conheceu algumas propostas dos investidores. Os mais fortes no páreo são
os empresários Nelson Tanure, dono de estaleiros e do Jornal do Brasil, German Efromovich, da Ocean Air, e as empresas Texas Pacific Group e Transportes
Aéreos Portugueses (TAP).

A empresa estatal portuguesa de aviação está em negociações adiantadas e o brasileiro Fernando Pinto, que preside a TAP, esteve no Rio de Janeiro nos últimos dias para tratar do assunto. O recém-eleito presidente da Varig, Henrique Neves, disse em uma reunião com os representantes dos trabalhadores da companhia, a Apivar, que o anúncio do nome do novo sócio investidor deve ser feito até o final desta semana. A definição do sócio estratégico, segundo Neves, é o que está faltando para a empresa ter o que ele chama de “boa vontade do governo” para ajudar no processo de reestruturação da Varig. Apesar de todos esses movimentos, o mercado vê com desconfiança mais esse anúncio de mudança societária. “Por várias vezes a Varig teve o benefício da dúvida, agora é difícil acreditar”, diz Marcelo Ribeiro. “A falta de credibilidade é o ponto-chave nessa história. É preciso saber que há gente séria trabalhando aqui”, diz Zylbersztajn. Esse resgate não é fácil. “O conselho é composto por pessoas que no passado nunca mostraram sensibilidade com os problemas da Varig”, reclama a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio. E dá um exemplo: “Eleazar de Carvalho era presidente do BNDES em 2002 e nem sequer avaliou o pedido de ajuda à empresa.” Zylbersztajn disse que “não sabia” do fato, mas alegou que não vê relação com o momento atual. “São conjunturas diferentes.” Bem diferentes.