18/05/2005 - 10:00
Se na área da beleza o sonho
é aparentar cada vez menos anos de vida, na seara da saúde o objetivo é ganhar cada vez mais tempo e qualidade de vida. Por isso, boa parte dos cientistas se esforça para entender os mecanismos que levam o organismo a envelhecer. A partir das informações levantadas, o que se quer é formular tratamentos que adiem esse processo. Nesse sentido, algumas descobertas importantes foram obtidas. Uma delas se refere à ação dos radicais livres no organismo. Trata-se de moléculas em desequilíbrio que facilitam o envelhecimento precoce das células. “Isso, conseqüentemente, leva ao envelhecimento de todo o corpo”, explica o geriatra Luiz Roberto Ramos, do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo.
Os radicais livres são formados naturalmente pelo organismo, mas também podem ser originados a partir da exposição das células à poluição, ao stress, fumo, álcool e ingestão de gordura saturada (vinda de fritura, por exemplo), entre outras circunstâncias. É o seu excesso que leva ao envelhecimento precoce. Por enquanto, sabe-se que, para combatê-los, as vitaminas são as melhores armas. Recentemente, no entanto, um artigo publicado na revista científica Science indicou um novo caminho contra esses inimigos. Pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) sugerem que uma enzima presente no corpo, a catalase, é capaz de neutralizá-los. A pesquisa foi feita em camundongos. Os que produziram mais enzima viveram cerca de 20% a mais do que os animais que não foram estimulados a aumentar a sua fabricação. “Os resultados podem ajudar na produção de remédios e tratamentos para proteger o organismo”, afirmou o pesquisador Peter Rabinovitch, um dos autores do estudo.
Da Escócia, vem outra descoberta. O cientista John Speakman, da Universidade de Aberdeen, divulgou o resultado de uma pesquisa feita com ratos que deixou em polvorosa os que sonham com uma pílula da longevidade. Speakman defende que um dia poderemos ganhar 30 anos se consumirmos comprimidos com tiroxina, um hormônio produzido pela tireóide. Isso porque seu estudo mostrou aumento de vida da ordem de 25% em roedores que receberam doses da substância. O cientista fez a projeção para a expectativa de vida humana e concluiu que o ganho seria de três décadas. Segundo ele, a tiroxina mantém as taxas de metabolismo em nível elevado. Nessa condição, o organismo reduz a produção de radicais livres. “Estamos falando em desacelerar o processo de envelhecimento e conquistar anos a mais que podem ser produtivos”, declarou.
Mas a comunidade médica encarou a pesquisa com desconfiança. Os especialistas dizem que o excesso de tiroxina pode aumentar o risco de doenças, como as cardíacas. Há mais um motivo para cautela. “Dados do nosso laboratório têm demonstrado que os ratos não são um bom modelo para o estudo das ações metabólicas dos hormônios da tireóide, quando se pretende estender o conhecimento para seres humanos”, observa a endocrinologista Denise Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Risco – De qualquer maneira, enquanto os conhecimentos obtidos em
laboratório não se materializam em terapias reais, necessita-se seguir a
orientação de que é preciso cuidar da saúde no presente para que, no futuro, ela ainda seja vigorosa. Os especialistas sugerem que os cuidados devam se intensificar a partir dos 35 anos, quando o corpo começa a envelhecer. “Identificar fatores de risco para doenças é uma atitude que deve ser tomada. Assim como abolir o cigarro, o álcool e o sedentarismo e manter uma alimentação rica em fibras, evitando frituras, gorduras e açúcares”, afirma o geriatra Clineu Almada, do Hospital Albert Einstein (SP). Segundo ele, os exercícios também são importantíssimos. A atividade física regular ajuda a reduzir a perda da massa muscular, uma das primeiras manifestações do envelhecimento. “Dos 30 aos 50 anos de idade, o ser humano perde 10% da massa muscular. Dos 50 aos 80 anos, esse índice chega a 30%. Ao perder força, perde-se também resistência. Por isso a relevância de praticar caminhada, natação, musculação e até modalidades como o tai chi chuan para tentar reduzir essas perdas”, afirma.
Autonomia – Outro consenso é a necessidade de manter a capacidade
funcional do corpo. Para a geriatra Andréa Prates, coordenadora do Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável, a idade não é parâmetro para definir a velhice. A questão funcional, sim. “Poder gerir a própria
vida desempenhando suas atividades com autonomia e independência é o que importa”, afirma. Para o médico Wilson Jacob Filho, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, há também muitas outras maneiras de prolongar a jovialidade. “Manter o equilíbrio emocional e uma rede de suporte social é essencial”, diz. A professora aposentada Maria Helena Vieira, 63 anos, se encaixa nesse perfil. Depois que parou de dar aulas, procurou um curso de artes plásticas para realizar um antigo desejo: pintar. Hoje, entre uma tela e outra, faz inglês, oficinas de artes e ainda sai com as amigas. Tudo isso sem abrir mão da sagrada caminhada matinal. “Não tenho tempo para pensar que estou envelhecendo. Tenho uma família adorável que me apóia e, além disso, faço coisas que me dão muito prazer e alegria. Não sobra tempo para nada. Nem para as doenças”, diz Maria Helena, muito feliz com a idade que tem.