Visivelmente abatido, o astro principal de um antigo comercial de churrascaria se dirigia ao telespectador para enumerar os benefícios de sua nova alimentação, à base de folhas. A partir da imagem do personagem de aspecto doentio, a propaganda explorava as vantagens de um cardápio farto em carnes. Se o ser humano é aquilo que come, como diz o ditado, o mesmo vale para os dinossauros.

Pela primeira vez, os paleontólogos terão elementos para avaliar o impacto dessa mudança alimentar sobre a estrutura física. A partir de 1.700 ossos desenterrados durante três anos no Estado americano de Utah, eles descobriram uma espécie de dinossauro que mostra em detalhes esse processo evolutivo.

Do tamanho de um elefante e com a aparência de avestruz com gorila, a criatura tinha duas patas, plumas como a dos pássaros e garras afiadas. Batizado de Falcarius utahensis, que significa lagarto-foice de Utah, ele viveu há 125 milhões de anos e faz parte do mesmo grupo dos assassinos como o tiranossauro, a estrela do filme Parque dos dinossauros.

Seus ossos foram achados numa fossa coletiva, junto de centenas de outros bichos cuja morte permanece um mistério. A criatura se alimentava de plantas, mas provavelmente não dispensava um bom lagarto que lhe cruzasse o caminho. “Ele é um elo perdido entre os pequenos dinossauros predadores e os bizarros terizinossauros comedores de plantas”, resume o americano James Kirkland, principal autor do estudo.

Troncudo e atarracado, o bicho trocou os dentes triangulares e serrados, ideais para estraçalhar a carne, por uma dentição menor, em formato de folha. Sua pêlvis era larga, o que revela um intestino maior para a digestão de plantas, que são mais difíceis de processar do que a carne.

O dinossauro emplumado tinha o pescoço alongado e os membros dianteiros flexíveis para alcançar plantas e árvores frutíferas. A descoberta americana teve um detalhe bizarro. Para chegar ao bicho, os cientistas contrataram os serviços de um ladrão de fósseis, que em 2002 foi condenado a cinco meses de prisão por surrupiar patrimônio público.